quinta-feira, 18 de junho de 2009

.Biografia e entrevista : Oswaldinho do acordeon

Oswaldinho do Acordeon

Do Som Tradicional Ao Moderno.

Por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa

O sanfoneiro, cantor, compositor carioca Oswaldinho do Acordeon é respeitado dentro e fora do Brasil. Um excelente instrumentista e compositor que teve e tem uma convivência pessoal e profissional com os melhores sanfoneiros (Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca e Hermeto Paschoal e muitos outros) músicos brasileiros. Ganhou a primeira sanfona do pai (O sanfoneiro Pedro Sertanejo) antes de aprender andar.

Na adolescência aprendeu piano e gravou o seu primeiro disco ainda criança. Um sanfoneiro que uni o tradicional ao pop sem perde a autenticidade. Gravou um CD com temas clássicos em ritmo de sanfona. E recentemente gravou um CD Asa Branca Blues, com baiões e forrós tradicionais em ritmo de rock, blues e jazz.

Um inovador nunca um modista. Segue seu caminho com mais de 20 discos lançados com a notoriedade dentro e fora do país. Conhecedor profundo do gênero musical nordestino e do seu instrumento de trabalho – A Sanfona.

Tive o prazer de conhecê-lo e entrevista-lo no estúdio de gravação Fábrica Produções Musicais. E conversado após a entrevista encontramos pontos comuns de pensamento e reflexões sobre a música brasileira. Um geminiano inteligente que ouve mais e fala com ponderação de anos de experiência e conhecimento do meio artístico. Conhece os caminhos das pedras e tem a humildade e simplicidade dos gênios. Tem participações especiais em diversos trabalhos de artistas conhecidos e anônimos ainda do grande publico. Um homem íntegro que tem consciência do seu papel como artista. Sabe que não escolheu a música, mas a música que lhe escolheu como instrumento de criatividade. Em 2003 lança dois CD Asa Branca Blues e Um Bom Forró pela Kuarup Discos.

Segue abaixo entrevista exclusiva de Oswaldinho do Acordeon para revista musical on-line Ritmo Melodia em 09\2003:

1-) Ritmo Melodia – Oswaldinho fale do seu primeiro contato com a música?

Oswaldinho do Acordeon - Eu nasci em 05/06/1954 e sou filho de Pedro Sertanejo, que era sanfoneiro e afinado desse instrumento. O mesmo baiano de Euclides da Cunha, me passou o ensinamento do acordeom desde cedo. Eu sou carioca e meus quatros irmãos e dois nasceram em São Paulo. Na minha casa sempre se encontravam os sanfoneiros para tocar ou trocar informações. Os mais freqüentes eram Luiz Gonzaga, Sivuca, Zé Gonzaga e muitos outros. O meu pai me presenteou uma sanfona de quatro baixo quando eu tinha sete meses de vida. Fui crescendo e meu pai me presenteando novas sanfonas (De 40, 80 e 120 baixos). Meu participou de programas de TV com Chacrinha, Coronel Nascizinho e era contratado da radio nacional. Fui autodidata até os 12 anos de idade, ouvindo e tocando musicas de Gonzaga, Dominguinhos (Aos 15 anos de idade foi morar na nossa casa), Manoel Silveira, Sivuca e outros sanfoneiros. Em São Paulo (Para onde família se mudou) procurei escola de acordeom, mas não encontrei e tive que estudar piano uns seis anos. Aos 16 anos conheci o italiano Dante que foi meu professor de música clássica e acordeom até o mesmo voltar para Itália e passou incumbência aos ensinamentos de outro professor italiano Paulo Fiola. Hoje o acordeom se tornou popular, mas no passado era discriminado, muitos tocavam mais se omitiam a se apresentar ou ensinar. Essa omissão era motivada pelo fato do acordeom não oferecer status como o Piano.

2-) RM – Fale da origem do acordeom?

OA – Recentemente participei do festival internacional – França. Um francês me contou que o acordeom tem origem chinesa e difundida na Itália. Os melhores acordeons são italianos, mas antes era um acordeom alemão.

3-) RM – Fale dos gêneros musicais tocados pelo acordeom anterior ao estilo nordestino?

OA – A primeira sanfona ou acordeom que chegou ao país chegou às caravelas de Cabral e era chamada de concertina (Acordeom cromático de botão com 120 baixos). O acordeom se tornou popular principalmente no nordeste, centro - oeste e sul do Brasil. Os primeiros gêneros (Fado, Valsa, Polca, Bugiu, Caijun e etc) retratavam o folclore dos imigrantes portugueses, alemãs, italianos, franceses e espanhóis. Nos cassinos da década 40 os sanfoneiros tocavam Tango, Polca e Valsa. Até então Gonzaga só tocava sanfona com influencia nordestina para estudantes nordestinos que tinham saudade da sua origem. O Ari Barroso incentivou Gonzaga a defender o gênero musical da sua terra no rádio.

4-) RM – Na sua opinião qual a origem do Forró ?

OA – A origem da palavra é inglesa For All (Festa para todos - promovida pelos engenheiros para operários da malha ferroviária brasileira). O ritmo é derivado do Xaxado, gênero musical divulgado por Lampião quando promovia festa para o seu bando. O Forró é mais rápido que o Baião, semelhança só no compasso 2/4 na pauta musical. O que conhecemos como Forró tem influencia do baião, xote, xaxado, do maracatu, do samba de roda, do arrasta - pé e da ciranda. Meu pai popularizou os gêneros musicais nordestinos intitulando como sendo Forró por ser uma palavra fácil de falar e que identificava o encontro de nordestinos nos bailes populares. Quem divulgou o Baião foi Gonzaga, Forró foi Jackson do Pandeiro e o Forró Pé – de Serra foi Pedro Sertanejo. O Baião é lento, forró suingado e o Pé – de – serra ou arrasta – pé acelerado.

5-) RM – Fale da música nordestina instrumental tocada pelo acordeom?

OA - A maioria de nós brasileiros não está acostumado a ouvir música instrumental, seja qual for o gênero. A maioria gosta de cantar e dançar. Os forros instrumentais da época dos sanfoneiros Noca do Acordeom, Abdias, Zé Calixto, Gerson Filho, Saraiva, Zé Paraíba e Pedro Sertanejo. A mídia não divulga a música instrumental em geral. Nos bailes nordestinos todo mundo dançava e gostava dos temas musicais que eram chamados pelos sanfoneiros como Gonzaga, samba de fôle. Muitas letras pobres em texto, rimas e concordância tomam lamentavelmente, melhor seriam sem letra e só como temas musicais.

6-) RM – Qual a diferença da Sanfona para o Acordeom?

OA - O Acordeom é um instrumento universal de 120 baixos, que se popularizou como sanfona. A verdadeira Sanfona é aquele instrumento acordeom menor de 8 baixos (Abrindo o fôle é uma nota e fechando outra e ensinada de pai para filho) conhecido no interior do nordeste como pé-de-bode ou concertina e no sul como gaita ponto. Hoje temos acordeom com o recurso do MIDI superior ao teclado, mas continua pesado.

7-) RM – Fale de sua apresentação nos shows?

OA - Uso dois tipos de acordeom nos shows (Acústico e MIDI). O acústico uso mais por identificar mais com a música nordestina e o MIDI deixo em pedestal e toco os dois simultaneamente me valendo dos recursos e qualidades de cada um.

8-) RM – Fale do seu inicio na carreira profissional e quantos discos lançados?

OA - Comecei cedo. Aos 9 anos de idade participei no disco do meu pai pela Continental e aos 12 anos lancei um compacto simples. Em carreira solo são 22 discos e centenas de participações em discos de outros artistas. O disco que teve maior receptividade foi O Forró Inconcet, lançado em 1980, em que gravei musicas clássicas em estilo de forró. Esse disco abriu as portas dos festivais de jazz na Europa. No final de 2002 gravei dos CDs (Um Bom Forró e Asa Branca Blues) pela Kuarup. São trabalhos distintos dentro da mesma essência – A música nordestina. Um é forró autentico e tradicional e o outro traz influencia do jazz, blues e rock fazendo uma roupagem em musicas tradicionais cancioneiros nordestino.

9-) RM – Fale de composições sua gravadas por outros cantores?

OA – Fiz a músico Valentão que o Morais Moreira colocou a letra e fez sucesso na voz de Baby do Brasil. Outras não atingiram tanta popularidade. Tenho muitas melodias, mas não encontrei ainda um bom letrista. Para mim a música tem que ser boa em melodia e letra.

10 -) RM – Fale da trajetória e importância de Pedro Sertanejo para música nordestina?

OA - Um sertanejo que saiu de Euclides da Cunha, interior baiano. Chegou ao Rio de Janeiro e depois fixou residência e luta em São Paulo. Um homem que divulgou e pensou no povo e na cultura nordestina. Teve um programa na rádio do grande ABC por 16 anos. Criou a primeira gravadora independente Canta Galo, exceto Luiz Gonzaga e Marines, a maioria dos sanfoneiros, trios e cantores (a) gravaram lá (Dominguinhos, Genival Lacerda, Abdias, Zé Calixto, Jacinto Silva, Anastácia, Fúba de Taperoá). Ele tinha um programa na TV cultura sobre Forró. Meu pai foi de grande importância para música popular brasileira desde 1966 quando abriu a primeira casa de Forró na rua Catumbi. O local passou a ser um ponto de encontro dos forrozeiros e nordestinos. Vários obstáculos ele teve que enfrentar para mostrar que os nordestinos eram pacíficos. As autoridades negavam alvará de funcionamento e policiamento nos dias de festas. Se houvesse um atropelamento a 500 metros do salão que pagava era o meu pai. A discriminação e preconceito policial criavam uma hostilidade por parte de nordestinos mais valentes com policiais que abusavam da autoridade. Na verdade o povo que freqüentava o salão queria apenas se divertir e lembrar das coisas do sertão.

11-) RM – Quais os prós e contras da popularização do “Forró Universitário”?

OA - Existem pontos positivo do trabalho da garotada. Mas temos que tomar cuidado com o rotulo de “Universitário” para que os não acadêmicos, ou seja, as pessoas simples que gostam da música nordestina não se sintam retraída a entra no salão ou festa por se tratar de um nível “superior”. O forró é festa para todos e retrata a cultura de um povo. O “Forró Universitário” a priori, surgiu como uma forma de protesto contra as bandas de forrós do Ceará que pertenciam algumas ao mesmo dono e falavam o próprio nome dentro da gravação para sabermos qual estava cantando. Algo que se tornou muito maçante. Com a popularização dos grupos intitulados de “Forró Universitário”, os trios de forrós voltaram a chamar atenção como sendo um referencial de Forró raiz.

12-) RM – Fale da cirurgia que você se submeteu e como está sua recuperação?

OA - A hérnia de disco incomodou muito antes da cirurgia. Agora estou recuperando meus movimentos que estavam ficando comprometidos, principalmente do braço esquerdo. Melhorou 70% estou tendo paciência para chegar aos 100%. Eu fiz muita extravagância. Quem não escuta conselho, escuta no futuro coitado.

13- ) RM – Fale quem foram e são seus mestres do acordeom ou da sanfona ?

OA – São muitos. Os principais são Dominguinhos, Sivuca, Casulinha, Orlando Silveira, Maestro Chiquinho e Pedro Sertanejo (Falecidos). Excelentes instrumentistas e arranjadores. Essas pessoas foi minha escola. O meu pai tinha uma forma ímpar de tocar sem imitar ninguém. Ele fez a sua própria sanfona e criou seu estilo.

14-) RM – Quais os projeto para 2003?

OA – A principio meus dois CDs (Um Bom Forró e Asa Branca Blues) que comentei anteriormente. Um com forrós tradicionais e inéditos cantados por mim e por uma cantora que trabalhar comigo (Veridiana Nascimento). E outro instrumental com musicas inéditas minhas e regravações do cancioneiro nordestino como Baião, Assa Branca, Que nem Jiló, Forró do Pedro. Em março, estarei em Paris divulgando Asa Branca Blues.

15-) RM – Fale da seu trabalho fora do Brasil e qual a receptividade?

OA - É importante quando um artista brasileiro está fora do país trocar informações com os músicos locais. Toquei em uma casa de show americana a Blue Note com vários artistas de blues e jazz que abriu minha cabeça alimentando a minha influencia da juventude com o rock, blues e jazz do final da década 60 anos. Gravei com músicos americanos. Gosto de fazer fusões da música nordestina com outros gêneros das minhas preferências. Toquei com ex-presidente francês. Toquei em lugares e pessoas importantes do mundo. Tenho muito orgulho do meu trabalho, meu instrumento e do caminho que escolhi trilhar.

Oswaldinho do Acordeon - Lamento Nordestino.mp3
Oswaldinho do Acordeon - Bom Forró - Lavadeira do Rio.mp3
08.Asa Branca (com Oswaldinho do acordeon e outros).mp3

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