TV Diário está fora do ar nas parabólicas
AS parabólicas não sintonizam mais o sinal da TV Diário no país.
Essa guerra entre Globo e Tv Diário vinha sendo travada há tempos e como era esperado, venceu quem tem mais "argumento".
A Globo ameaçou até não renovar contrato com a Tv Verdes Mares, sua afiliada no Ceará e empresa que faz parte do mesmo grupo de comunicação da Tv Diário. A justificativa para tamanha pressão é que a Tv Diário é uma emissora comunitária, o que não daria a ela a permissão para ser assistida em âmbito nacional.Sendo isso legal ou não, a verdade de tudo isso é que a programação estritamente regional da TV Diário "perturbou" as grande emissoras do sul do país, especialmente as afiliadas da Rede Globo.
Todos sabem que nas periferias dos grandes centros, onde há grande concentração de cearenses, a audiência da tv cearense era arrebatadora, o que mexeu e muito com o faturamento das emissoras da região. A Vênus platinada jamais iria ameaçar até uma quebra de contrato com a tradicional Verdes Mares se a TV Diário não estivesse fazendo sucesso. O lamentável de tudo isso é saber que a zona rural, principalmente do Ceará e do nordeste, não vai mais poder ter acesso ao sinal da tv que falava a língua deles, com os costumes e o humor sempre aguçado do cearense. Agora só as cidades que captam em sinal aberto poderão continuar assistindo a programação da emissora feita por cearenses, com jeito nordestino para o mundo ver.
A emissora carioca não admitia que uma emissora eminentemente nordestina, conseguisse bater alguns dos seus programas. O sinal da TV Diário fica restrita apenas as cidades cearenses onde tem canal aberto. Perde o Nordeste, perde o Brasil.
terça-feira, 23 de junho de 2009
quinta-feira, 18 de junho de 2009
.Biografia e entrevista : Oswaldinho do acordeon
Oswaldinho do Acordeon
Do Som Tradicional Ao Moderno.
Por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa
O sanfoneiro, cantor, compositor carioca Oswaldinho do Acordeon é respeitado dentro e fora do Brasil. Um excelente instrumentista e compositor que teve e tem uma convivência pessoal e profissional com os melhores sanfoneiros (Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca e Hermeto Paschoal e muitos outros) músicos brasileiros. Ganhou a primeira sanfona do pai (O sanfoneiro Pedro Sertanejo) antes de aprender andar.
Na adolescência aprendeu piano e gravou o seu primeiro disco ainda criança. Um sanfoneiro que uni o tradicional ao pop sem perde a autenticidade. Gravou um CD com temas clássicos em ritmo de sanfona. E recentemente gravou um CD Asa Branca Blues, com baiões e forrós tradicionais em ritmo de rock, blues e jazz.
Um inovador nunca um modista. Segue seu caminho com mais de 20 discos lançados com a notoriedade dentro e fora do país. Conhecedor profundo do gênero musical nordestino e do seu instrumento de trabalho – A Sanfona.
Tive o prazer de conhecê-lo e entrevista-lo no estúdio de gravação Fábrica Produções Musicais. E conversado após a entrevista encontramos pontos comuns de pensamento e reflexões sobre a música brasileira. Um geminiano inteligente que ouve mais e fala com ponderação de anos de experiência e conhecimento do meio artístico. Conhece os caminhos das pedras e tem a humildade e simplicidade dos gênios. Tem participações especiais em diversos trabalhos de artistas conhecidos e anônimos ainda do grande publico. Um homem íntegro que tem consciência do seu papel como artista. Sabe que não escolheu a música, mas a música que lhe escolheu como instrumento de criatividade. Em 2003 lança dois CD Asa Branca Blues e Um Bom Forró pela Kuarup Discos.
Segue abaixo entrevista exclusiva de Oswaldinho do Acordeon para revista musical on-line Ritmo Melodia em 09\2003:
1-) Ritmo Melodia – Oswaldinho fale do seu primeiro contato com a música?
Oswaldinho do Acordeon - Eu nasci em 05/06/1954 e sou filho de Pedro Sertanejo, que era sanfoneiro e afinado desse instrumento. O mesmo baiano de Euclides da Cunha, me passou o ensinamento do acordeom desde cedo. Eu sou carioca e meus quatros irmãos e dois nasceram em São Paulo. Na minha casa sempre se encontravam os sanfoneiros para tocar ou trocar informações. Os mais freqüentes eram Luiz Gonzaga, Sivuca, Zé Gonzaga e muitos outros. O meu pai me presenteou uma sanfona de quatro baixo quando eu tinha sete meses de vida. Fui crescendo e meu pai me presenteando novas sanfonas (De 40, 80 e 120 baixos). Meu participou de programas de TV com Chacrinha, Coronel Nascizinho e era contratado da radio nacional. Fui autodidata até os 12 anos de idade, ouvindo e tocando musicas de Gonzaga, Dominguinhos (Aos 15 anos de idade foi morar na nossa casa), Manoel Silveira, Sivuca e outros sanfoneiros. Em São Paulo (Para onde família se mudou) procurei escola de acordeom, mas não encontrei e tive que estudar piano uns seis anos. Aos 16 anos conheci o italiano Dante que foi meu professor de música clássica e acordeom até o mesmo voltar para Itália e passou incumbência aos ensinamentos de outro professor italiano Paulo Fiola. Hoje o acordeom se tornou popular, mas no passado era discriminado, muitos tocavam mais se omitiam a se apresentar ou ensinar. Essa omissão era motivada pelo fato do acordeom não oferecer status como o Piano.
2-) RM – Fale da origem do acordeom?
OA – Recentemente participei do festival internacional – França. Um francês me contou que o acordeom tem origem chinesa e difundida na Itália. Os melhores acordeons são italianos, mas antes era um acordeom alemão.
3-) RM – Fale dos gêneros musicais tocados pelo acordeom anterior ao estilo nordestino?
OA – A primeira sanfona ou acordeom que chegou ao país chegou às caravelas de Cabral e era chamada de concertina (Acordeom cromático de botão com 120 baixos). O acordeom se tornou popular principalmente no nordeste, centro - oeste e sul do Brasil. Os primeiros gêneros (Fado, Valsa, Polca, Bugiu, Caijun e etc) retratavam o folclore dos imigrantes portugueses, alemãs, italianos, franceses e espanhóis. Nos cassinos da década 40 os sanfoneiros tocavam Tango, Polca e Valsa. Até então Gonzaga só tocava sanfona com influencia nordestina para estudantes nordestinos que tinham saudade da sua origem. O Ari Barroso incentivou Gonzaga a defender o gênero musical da sua terra no rádio.
4-) RM – Na sua opinião qual a origem do Forró ?
OA – A origem da palavra é inglesa For All (Festa para todos - promovida pelos engenheiros para operários da malha ferroviária brasileira). O ritmo é derivado do Xaxado, gênero musical divulgado por Lampião quando promovia festa para o seu bando. O Forró é mais rápido que o Baião, semelhança só no compasso 2/4 na pauta musical. O que conhecemos como Forró tem influencia do baião, xote, xaxado, do maracatu, do samba de roda, do arrasta - pé e da ciranda. Meu pai popularizou os gêneros musicais nordestinos intitulando como sendo Forró por ser uma palavra fácil de falar e que identificava o encontro de nordestinos nos bailes populares. Quem divulgou o Baião foi Gonzaga, Forró foi Jackson do Pandeiro e o Forró Pé – de Serra foi Pedro Sertanejo. O Baião é lento, forró suingado e o Pé – de – serra ou arrasta – pé acelerado.
5-) RM – Fale da música nordestina instrumental tocada pelo acordeom?
OA - A maioria de nós brasileiros não está acostumado a ouvir música instrumental, seja qual for o gênero. A maioria gosta de cantar e dançar. Os forros instrumentais da época dos sanfoneiros Noca do Acordeom, Abdias, Zé Calixto, Gerson Filho, Saraiva, Zé Paraíba e Pedro Sertanejo. A mídia não divulga a música instrumental em geral. Nos bailes nordestinos todo mundo dançava e gostava dos temas musicais que eram chamados pelos sanfoneiros como Gonzaga, samba de fôle. Muitas letras pobres em texto, rimas e concordância tomam lamentavelmente, melhor seriam sem letra e só como temas musicais.
6-) RM – Qual a diferença da Sanfona para o Acordeom?
OA - O Acordeom é um instrumento universal de 120 baixos, que se popularizou como sanfona. A verdadeira Sanfona é aquele instrumento acordeom menor de 8 baixos (Abrindo o fôle é uma nota e fechando outra e ensinada de pai para filho) conhecido no interior do nordeste como pé-de-bode ou concertina e no sul como gaita ponto. Hoje temos acordeom com o recurso do MIDI superior ao teclado, mas continua pesado.
7-) RM – Fale de sua apresentação nos shows?
OA - Uso dois tipos de acordeom nos shows (Acústico e MIDI). O acústico uso mais por identificar mais com a música nordestina e o MIDI deixo em pedestal e toco os dois simultaneamente me valendo dos recursos e qualidades de cada um.
8-) RM – Fale do seu inicio na carreira profissional e quantos discos lançados?
OA - Comecei cedo. Aos 9 anos de idade participei no disco do meu pai pela Continental e aos 12 anos lancei um compacto simples. Em carreira solo são 22 discos e centenas de participações em discos de outros artistas. O disco que teve maior receptividade foi O Forró Inconcet, lançado em 1980, em que gravei musicas clássicas em estilo de forró. Esse disco abriu as portas dos festivais de jazz na Europa. No final de 2002 gravei dos CDs (Um Bom Forró e Asa Branca Blues) pela Kuarup. São trabalhos distintos dentro da mesma essência – A música nordestina. Um é forró autentico e tradicional e o outro traz influencia do jazz, blues e rock fazendo uma roupagem em musicas tradicionais cancioneiros nordestino.
9-) RM – Fale de composições sua gravadas por outros cantores?
OA – Fiz a músico Valentão que o Morais Moreira colocou a letra e fez sucesso na voz de Baby do Brasil. Outras não atingiram tanta popularidade. Tenho muitas melodias, mas não encontrei ainda um bom letrista. Para mim a música tem que ser boa em melodia e letra.
10 -) RM – Fale da trajetória e importância de Pedro Sertanejo para música nordestina?
OA - Um sertanejo que saiu de Euclides da Cunha, interior baiano. Chegou ao Rio de Janeiro e depois fixou residência e luta em São Paulo. Um homem que divulgou e pensou no povo e na cultura nordestina. Teve um programa na rádio do grande ABC por 16 anos. Criou a primeira gravadora independente Canta Galo, exceto Luiz Gonzaga e Marines, a maioria dos sanfoneiros, trios e cantores (a) gravaram lá (Dominguinhos, Genival Lacerda, Abdias, Zé Calixto, Jacinto Silva, Anastácia, Fúba de Taperoá). Ele tinha um programa na TV cultura sobre Forró. Meu pai foi de grande importância para música popular brasileira desde 1966 quando abriu a primeira casa de Forró na rua Catumbi. O local passou a ser um ponto de encontro dos forrozeiros e nordestinos. Vários obstáculos ele teve que enfrentar para mostrar que os nordestinos eram pacíficos. As autoridades negavam alvará de funcionamento e policiamento nos dias de festas. Se houvesse um atropelamento a 500 metros do salão que pagava era o meu pai. A discriminação e preconceito policial criavam uma hostilidade por parte de nordestinos mais valentes com policiais que abusavam da autoridade. Na verdade o povo que freqüentava o salão queria apenas se divertir e lembrar das coisas do sertão.
11-) RM – Quais os prós e contras da popularização do “Forró Universitário”?
OA - Existem pontos positivo do trabalho da garotada. Mas temos que tomar cuidado com o rotulo de “Universitário” para que os não acadêmicos, ou seja, as pessoas simples que gostam da música nordestina não se sintam retraída a entra no salão ou festa por se tratar de um nível “superior”. O forró é festa para todos e retrata a cultura de um povo. O “Forró Universitário” a priori, surgiu como uma forma de protesto contra as bandas de forrós do Ceará que pertenciam algumas ao mesmo dono e falavam o próprio nome dentro da gravação para sabermos qual estava cantando. Algo que se tornou muito maçante. Com a popularização dos grupos intitulados de “Forró Universitário”, os trios de forrós voltaram a chamar atenção como sendo um referencial de Forró raiz.
12-) RM – Fale da cirurgia que você se submeteu e como está sua recuperação?
OA - A hérnia de disco incomodou muito antes da cirurgia. Agora estou recuperando meus movimentos que estavam ficando comprometidos, principalmente do braço esquerdo. Melhorou 70% estou tendo paciência para chegar aos 100%. Eu fiz muita extravagância. Quem não escuta conselho, escuta no futuro coitado.
13- ) RM – Fale quem foram e são seus mestres do acordeom ou da sanfona ?
OA – São muitos. Os principais são Dominguinhos, Sivuca, Casulinha, Orlando Silveira, Maestro Chiquinho e Pedro Sertanejo (Falecidos). Excelentes instrumentistas e arranjadores. Essas pessoas foi minha escola. O meu pai tinha uma forma ímpar de tocar sem imitar ninguém. Ele fez a sua própria sanfona e criou seu estilo.
14-) RM – Quais os projeto para 2003?
OA – A principio meus dois CDs (Um Bom Forró e Asa Branca Blues) que comentei anteriormente. Um com forrós tradicionais e inéditos cantados por mim e por uma cantora que trabalhar comigo (Veridiana Nascimento). E outro instrumental com musicas inéditas minhas e regravações do cancioneiro nordestino como Baião, Assa Branca, Que nem Jiló, Forró do Pedro. Em março, estarei em Paris divulgando Asa Branca Blues.
15-) RM – Fale da seu trabalho fora do Brasil e qual a receptividade?
OA - É importante quando um artista brasileiro está fora do país trocar informações com os músicos locais. Toquei em uma casa de show americana a Blue Note com vários artistas de blues e jazz que abriu minha cabeça alimentando a minha influencia da juventude com o rock, blues e jazz do final da década 60 anos. Gravei com músicos americanos. Gosto de fazer fusões da música nordestina com outros gêneros das minhas preferências. Toquei com ex-presidente francês. Toquei em lugares e pessoas importantes do mundo. Tenho muito orgulho do meu trabalho, meu instrumento e do caminho que escolhi trilhar.
Oswaldinho do Acordeon - Lamento Nordestino.mp3
Oswaldinho do Acordeon - Bom Forró - Lavadeira do Rio.mp3
08.Asa Branca (com Oswaldinho do acordeon e outros).mp3
Do Som Tradicional Ao Moderno.
Por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa
O sanfoneiro, cantor, compositor carioca Oswaldinho do Acordeon é respeitado dentro e fora do Brasil. Um excelente instrumentista e compositor que teve e tem uma convivência pessoal e profissional com os melhores sanfoneiros (Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca e Hermeto Paschoal e muitos outros) músicos brasileiros. Ganhou a primeira sanfona do pai (O sanfoneiro Pedro Sertanejo) antes de aprender andar.
Na adolescência aprendeu piano e gravou o seu primeiro disco ainda criança. Um sanfoneiro que uni o tradicional ao pop sem perde a autenticidade. Gravou um CD com temas clássicos em ritmo de sanfona. E recentemente gravou um CD Asa Branca Blues, com baiões e forrós tradicionais em ritmo de rock, blues e jazz.
Um inovador nunca um modista. Segue seu caminho com mais de 20 discos lançados com a notoriedade dentro e fora do país. Conhecedor profundo do gênero musical nordestino e do seu instrumento de trabalho – A Sanfona.
Tive o prazer de conhecê-lo e entrevista-lo no estúdio de gravação Fábrica Produções Musicais. E conversado após a entrevista encontramos pontos comuns de pensamento e reflexões sobre a música brasileira. Um geminiano inteligente que ouve mais e fala com ponderação de anos de experiência e conhecimento do meio artístico. Conhece os caminhos das pedras e tem a humildade e simplicidade dos gênios. Tem participações especiais em diversos trabalhos de artistas conhecidos e anônimos ainda do grande publico. Um homem íntegro que tem consciência do seu papel como artista. Sabe que não escolheu a música, mas a música que lhe escolheu como instrumento de criatividade. Em 2003 lança dois CD Asa Branca Blues e Um Bom Forró pela Kuarup Discos.
Segue abaixo entrevista exclusiva de Oswaldinho do Acordeon para revista musical on-line Ritmo Melodia em 09\2003:
1-) Ritmo Melodia – Oswaldinho fale do seu primeiro contato com a música?
Oswaldinho do Acordeon - Eu nasci em 05/06/1954 e sou filho de Pedro Sertanejo, que era sanfoneiro e afinado desse instrumento. O mesmo baiano de Euclides da Cunha, me passou o ensinamento do acordeom desde cedo. Eu sou carioca e meus quatros irmãos e dois nasceram em São Paulo. Na minha casa sempre se encontravam os sanfoneiros para tocar ou trocar informações. Os mais freqüentes eram Luiz Gonzaga, Sivuca, Zé Gonzaga e muitos outros. O meu pai me presenteou uma sanfona de quatro baixo quando eu tinha sete meses de vida. Fui crescendo e meu pai me presenteando novas sanfonas (De 40, 80 e 120 baixos). Meu participou de programas de TV com Chacrinha, Coronel Nascizinho e era contratado da radio nacional. Fui autodidata até os 12 anos de idade, ouvindo e tocando musicas de Gonzaga, Dominguinhos (Aos 15 anos de idade foi morar na nossa casa), Manoel Silveira, Sivuca e outros sanfoneiros. Em São Paulo (Para onde família se mudou) procurei escola de acordeom, mas não encontrei e tive que estudar piano uns seis anos. Aos 16 anos conheci o italiano Dante que foi meu professor de música clássica e acordeom até o mesmo voltar para Itália e passou incumbência aos ensinamentos de outro professor italiano Paulo Fiola. Hoje o acordeom se tornou popular, mas no passado era discriminado, muitos tocavam mais se omitiam a se apresentar ou ensinar. Essa omissão era motivada pelo fato do acordeom não oferecer status como o Piano.
2-) RM – Fale da origem do acordeom?
OA – Recentemente participei do festival internacional – França. Um francês me contou que o acordeom tem origem chinesa e difundida na Itália. Os melhores acordeons são italianos, mas antes era um acordeom alemão.
3-) RM – Fale dos gêneros musicais tocados pelo acordeom anterior ao estilo nordestino?
OA – A primeira sanfona ou acordeom que chegou ao país chegou às caravelas de Cabral e era chamada de concertina (Acordeom cromático de botão com 120 baixos). O acordeom se tornou popular principalmente no nordeste, centro - oeste e sul do Brasil. Os primeiros gêneros (Fado, Valsa, Polca, Bugiu, Caijun e etc) retratavam o folclore dos imigrantes portugueses, alemãs, italianos, franceses e espanhóis. Nos cassinos da década 40 os sanfoneiros tocavam Tango, Polca e Valsa. Até então Gonzaga só tocava sanfona com influencia nordestina para estudantes nordestinos que tinham saudade da sua origem. O Ari Barroso incentivou Gonzaga a defender o gênero musical da sua terra no rádio.
4-) RM – Na sua opinião qual a origem do Forró ?
OA – A origem da palavra é inglesa For All (Festa para todos - promovida pelos engenheiros para operários da malha ferroviária brasileira). O ritmo é derivado do Xaxado, gênero musical divulgado por Lampião quando promovia festa para o seu bando. O Forró é mais rápido que o Baião, semelhança só no compasso 2/4 na pauta musical. O que conhecemos como Forró tem influencia do baião, xote, xaxado, do maracatu, do samba de roda, do arrasta - pé e da ciranda. Meu pai popularizou os gêneros musicais nordestinos intitulando como sendo Forró por ser uma palavra fácil de falar e que identificava o encontro de nordestinos nos bailes populares. Quem divulgou o Baião foi Gonzaga, Forró foi Jackson do Pandeiro e o Forró Pé – de Serra foi Pedro Sertanejo. O Baião é lento, forró suingado e o Pé – de – serra ou arrasta – pé acelerado.
5-) RM – Fale da música nordestina instrumental tocada pelo acordeom?
OA - A maioria de nós brasileiros não está acostumado a ouvir música instrumental, seja qual for o gênero. A maioria gosta de cantar e dançar. Os forros instrumentais da época dos sanfoneiros Noca do Acordeom, Abdias, Zé Calixto, Gerson Filho, Saraiva, Zé Paraíba e Pedro Sertanejo. A mídia não divulga a música instrumental em geral. Nos bailes nordestinos todo mundo dançava e gostava dos temas musicais que eram chamados pelos sanfoneiros como Gonzaga, samba de fôle. Muitas letras pobres em texto, rimas e concordância tomam lamentavelmente, melhor seriam sem letra e só como temas musicais.
6-) RM – Qual a diferença da Sanfona para o Acordeom?
OA - O Acordeom é um instrumento universal de 120 baixos, que se popularizou como sanfona. A verdadeira Sanfona é aquele instrumento acordeom menor de 8 baixos (Abrindo o fôle é uma nota e fechando outra e ensinada de pai para filho) conhecido no interior do nordeste como pé-de-bode ou concertina e no sul como gaita ponto. Hoje temos acordeom com o recurso do MIDI superior ao teclado, mas continua pesado.
7-) RM – Fale de sua apresentação nos shows?
OA - Uso dois tipos de acordeom nos shows (Acústico e MIDI). O acústico uso mais por identificar mais com a música nordestina e o MIDI deixo em pedestal e toco os dois simultaneamente me valendo dos recursos e qualidades de cada um.
8-) RM – Fale do seu inicio na carreira profissional e quantos discos lançados?
OA - Comecei cedo. Aos 9 anos de idade participei no disco do meu pai pela Continental e aos 12 anos lancei um compacto simples. Em carreira solo são 22 discos e centenas de participações em discos de outros artistas. O disco que teve maior receptividade foi O Forró Inconcet, lançado em 1980, em que gravei musicas clássicas em estilo de forró. Esse disco abriu as portas dos festivais de jazz na Europa. No final de 2002 gravei dos CDs (Um Bom Forró e Asa Branca Blues) pela Kuarup. São trabalhos distintos dentro da mesma essência – A música nordestina. Um é forró autentico e tradicional e o outro traz influencia do jazz, blues e rock fazendo uma roupagem em musicas tradicionais cancioneiros nordestino.
9-) RM – Fale de composições sua gravadas por outros cantores?
OA – Fiz a músico Valentão que o Morais Moreira colocou a letra e fez sucesso na voz de Baby do Brasil. Outras não atingiram tanta popularidade. Tenho muitas melodias, mas não encontrei ainda um bom letrista. Para mim a música tem que ser boa em melodia e letra.
10 -) RM – Fale da trajetória e importância de Pedro Sertanejo para música nordestina?
OA - Um sertanejo que saiu de Euclides da Cunha, interior baiano. Chegou ao Rio de Janeiro e depois fixou residência e luta em São Paulo. Um homem que divulgou e pensou no povo e na cultura nordestina. Teve um programa na rádio do grande ABC por 16 anos. Criou a primeira gravadora independente Canta Galo, exceto Luiz Gonzaga e Marines, a maioria dos sanfoneiros, trios e cantores (a) gravaram lá (Dominguinhos, Genival Lacerda, Abdias, Zé Calixto, Jacinto Silva, Anastácia, Fúba de Taperoá). Ele tinha um programa na TV cultura sobre Forró. Meu pai foi de grande importância para música popular brasileira desde 1966 quando abriu a primeira casa de Forró na rua Catumbi. O local passou a ser um ponto de encontro dos forrozeiros e nordestinos. Vários obstáculos ele teve que enfrentar para mostrar que os nordestinos eram pacíficos. As autoridades negavam alvará de funcionamento e policiamento nos dias de festas. Se houvesse um atropelamento a 500 metros do salão que pagava era o meu pai. A discriminação e preconceito policial criavam uma hostilidade por parte de nordestinos mais valentes com policiais que abusavam da autoridade. Na verdade o povo que freqüentava o salão queria apenas se divertir e lembrar das coisas do sertão.
11-) RM – Quais os prós e contras da popularização do “Forró Universitário”?
OA - Existem pontos positivo do trabalho da garotada. Mas temos que tomar cuidado com o rotulo de “Universitário” para que os não acadêmicos, ou seja, as pessoas simples que gostam da música nordestina não se sintam retraída a entra no salão ou festa por se tratar de um nível “superior”. O forró é festa para todos e retrata a cultura de um povo. O “Forró Universitário” a priori, surgiu como uma forma de protesto contra as bandas de forrós do Ceará que pertenciam algumas ao mesmo dono e falavam o próprio nome dentro da gravação para sabermos qual estava cantando. Algo que se tornou muito maçante. Com a popularização dos grupos intitulados de “Forró Universitário”, os trios de forrós voltaram a chamar atenção como sendo um referencial de Forró raiz.
12-) RM – Fale da cirurgia que você se submeteu e como está sua recuperação?
OA - A hérnia de disco incomodou muito antes da cirurgia. Agora estou recuperando meus movimentos que estavam ficando comprometidos, principalmente do braço esquerdo. Melhorou 70% estou tendo paciência para chegar aos 100%. Eu fiz muita extravagância. Quem não escuta conselho, escuta no futuro coitado.
13- ) RM – Fale quem foram e são seus mestres do acordeom ou da sanfona ?
OA – São muitos. Os principais são Dominguinhos, Sivuca, Casulinha, Orlando Silveira, Maestro Chiquinho e Pedro Sertanejo (Falecidos). Excelentes instrumentistas e arranjadores. Essas pessoas foi minha escola. O meu pai tinha uma forma ímpar de tocar sem imitar ninguém. Ele fez a sua própria sanfona e criou seu estilo.
14-) RM – Quais os projeto para 2003?
OA – A principio meus dois CDs (Um Bom Forró e Asa Branca Blues) que comentei anteriormente. Um com forrós tradicionais e inéditos cantados por mim e por uma cantora que trabalhar comigo (Veridiana Nascimento). E outro instrumental com musicas inéditas minhas e regravações do cancioneiro nordestino como Baião, Assa Branca, Que nem Jiló, Forró do Pedro. Em março, estarei em Paris divulgando Asa Branca Blues.
15-) RM – Fale da seu trabalho fora do Brasil e qual a receptividade?
OA - É importante quando um artista brasileiro está fora do país trocar informações com os músicos locais. Toquei em uma casa de show americana a Blue Note com vários artistas de blues e jazz que abriu minha cabeça alimentando a minha influencia da juventude com o rock, blues e jazz do final da década 60 anos. Gravei com músicos americanos. Gosto de fazer fusões da música nordestina com outros gêneros das minhas preferências. Toquei com ex-presidente francês. Toquei em lugares e pessoas importantes do mundo. Tenho muito orgulho do meu trabalho, meu instrumento e do caminho que escolhi trilhar.
Oswaldinho do Acordeon - Lamento Nordestino.mp3
Oswaldinho do Acordeon - Bom Forró - Lavadeira do Rio.mp3
08.Asa Branca (com Oswaldinho do acordeon e outros).mp3
domingo, 14 de junho de 2009
.Biografia Genival Lacerda+(mp3)
Genival Lacerda
Representante do forró escrachado, suas letras de duplo sentido levaram sua música a ser conhecida como "pornoxote" ou "pornoxaxado", apesar de suas composições, na maioria, situarem-se entre o coco e o rojão, gêneros básicos de sua maior influência, Jackson do Pandeiro.Paraibano de Campina Grande, foi para Pernambuco na década de 50. Em 1955 gravou seu primeiro disco de 78 rotações, obtendo sucesso com a faixa "Coco de 56".
Em 1964, incentivado pelo concunhado Jackson do Pandeiro, foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou em casas de forró e chegou a gravar um LP. O sucesso só chegou mesmo em 1975, com a música "Severina Xique-Xique", cujo verso "ele tá de olho é na butique dela" se tornou o mais popular do compositor.
Depois disso, conhecido nacionalmente, se apresenta regularmente em várias cidades brasileiras, fazendo humor, dançando e cantando. Em 1997 lançou seu 61º disco.
segue abaixo o lp do Genival Lacerda ( o homem que tinha 3 pontinhos)
GENIVAL LACERDA - O HOMEM QUE TINHA TRÊS PONTINHOS - 1977.rar
terça-feira, 9 de junho de 2009
.Forró Tradicional: A cultura Nordestina na sua base
Rubens Lisboa, músico e compositor, fala sobre o forró conhecido por tradicional.
Como o povo mais animado do Brasil – põe sua roupa colorida característica, seu chapéu de palha e sai por aí, faceiro, para se esbaldar nos inúmeros arraiais que se multiplicam por todos os lugares. É tempo de pular quadrilha, de comer pamonha e fubá e de arear as fivelas.
O forró, que abrange a dança e a música, se constitui em manifestação genuína e sincrética da cultura popular, posto que une elementos do batuque, uma dança proveniente da cultura africana, com elementos rítmicos europeus e indígenas.
Vários ritmos compõem o forró: baião, xote, xaxado, coco e vaneirão, este como é conhecido no Sul do país. Na dança, formam-se pares, geralmente homens com mulheres. Tais pares podem a vir ou não a se desfazer durante o desenrolar da festa, já que não existe uma norma para a formação do par. Na falta de quem dançar, muitas vezes se dança com crianças, sozinho ou mulher com outra mulher.
Embora existam algumas marcações definidas, no todo a coreografia do forró não possui exatamente passos determinados, consistindo basicamente no improviso dos movimentos. Esse improviso pode também se estender às letras das músicas.
O autêntico forró pé-de-serra é formado por três músicos que ficam responsáveis pelos instrumentos: sanfona, triângulo e zabumba, mas ocasionalmente podem ainda fazer parte rabeca, pandeiro e agogô.
A real popularização do ritmo se deu a partir da década de 40, com Luiz Gonzaga, pernambucano do município de Exu que foi para o Rio de Janeiro e gravou inúmeras músicas que falavam do cotidiano nordestino. No início, o artista chegou a sofrer preconceito. Mas devagarzinho, o forró foi conquistando o grande público, deixando de ser só uma música para saudosos migrantes nordestinos ou pessoas de classe social inferior. É justo enfatizar que o modo poético como Gonzagão cantava sua vivência dura de sertanejo e as tristezas/doçuras da vida nordestina tão esquecida pelo resto do Brasil contribuiu e muito para essa aceitação. Outra figura de grande importância neste contexto é a do paraibano Jackson do Pandeiro, considerado por muitos como o maior ritmista da história da música popular brasileira e responsável pela nacionalização de canções nascidas entre o povo nordestino.
O nosso país, imenso em suas dimensões, é celeiro fértil para manifestações artísticas as mais variadas. A música é um espelho disso e reflete também as transformações impostas pelo tempo. Essas mudanças deveriam resultar em um produto melhorado. Não é o que acontece sempre. Este artigo – frise-se – não possui o condão de levantar bandeiras, tampouco o de defender teses, até porque, como diz o sábio ditado popular, “gosto não se discute”. O objetivo aqui se restringe a trazer a lume a importância do chamado forró tradicional dentro do que de mais genuíno ele possui.
Nesse diapasão, no entanto, não há como deixar de destacar uma questão de inatacável consistência que é: o forró que se ouve hoje continua a ser uma manifestação de cultura popular ou se tornou mais um elemento da cultura brasileira que foi modificado e habilmente manipulado pela indústria cultural a fim de que, constituindo-se num modismo, possa vir a render mais lucro aos investidores empresariais?
Decerto que o forró tradicional sentiu um baque com a eclosão, no início dos anos 90, da febre da lambada. Foi a partir desse momento que surgiram vários grupos musicais, imediatamente catapultados ao sucesso, fazendo o que se convencionou chamar de “lambaforró” ou “oxentemusic”. Pode-se dizer que o marco inicial deu-se no Ceará, mas o fato é que, com uma rapidez fulminante, espalhou-se pelo resto do Brasil, destacando-se em nosso Estado. Hoje, misturadas às inocentes quadrilhas, vêem-se nos palcos bailarinas seminuas acompanhando acordes de canções monocórdias, cujos versos são quase sempre entremeados por gemidos e similares. A própria dança também se modificou, assimilando passos inimaginavelmente sensuais.
Pegando carona nessa onda, jovens também conseguiram se destacar fazendo o “forró universitário”, talvez um meio termo entre o forró tradicional e o eletrônico. Na verdade, há lugar para toda uma fauna na floresta brazilis, mas o fato é que não se pode deixar de reconhecer que, por vias tortas, da mesma forma que o pagode resgatou sambistas antigos, fazendo-os conhecidos pelas novas gerações, esses grupos “alternativos” de forró estão ajudando a divulgar o ritmo e suscitar interesse nos velhos mestres.
Estagnar-se no tempo e viver respirando o passado não é salutar. Mudar a estrutura do que perpassa gerações e apropriar-se dele com interesses puramente comerciais, mantendo-lhe despudoradamente apenas o nome, também não é. Essa música que está sendo mostrada atualmente como forró tem seu espaço (senão não venderia a quantidade absurda de CD’s e DVD’s que vende), mas - reconheça-se – não é forró: a batida não é de forró, a dança não é de forró, a sanfona não é de forró, os instrumentos não são de forró, os temas das letras não se adequam ao forró. Essas bandas possuem um viés regionalista revestido de embalagem pop e vêm alcançando sucesso, mas não podem se auto-proclamar como representantes da cultura nordestina. São apelos de momento, frutos de um mercado que visa ao lucro fácil. Têm público cativo e merecem respeito tanto quanto qualquer outra vertente musical, até porque arte é coisa muito subjetiva. Mas o bom mesmo é que o autêntico forró sobrevive passando ao largo dessas grandes pirotecnias e maquiagens. Ele, na sua simplicidade, por si só se agiganta pois traz a genialidade impressa nas letras ingênuas e nas melodias deliciosamente contagiantes.
Autor: Rubens Lisboa, compositor e cantor e escreve todas as segundas-feiras a Coluna Musiqualidade para a Infonet
sábado, 6 de junho de 2009
.Chame isso de outra coisa, mas não chame de forró!
"O que está acontecendo com a raiz do nordestino, fui feliz desde menino apesar do sol fervendo, tu tá vendo o que eu to vendo, esse mundo tá mudado, pois um tal dos seus teclados chegou forte besta e só.
Chame isso de outra coisa, mas não chame de forró.
Lá do céu meu Gonzagão ta tocando seu lamento, e eu aqui feito um jumento escutando outra canção, dá uma dor no coração grita Jackson do Pandeiro, como pode um brasileiro chupar cana pelo nó.
Chame isso de outra coisa, mas não chame de forró.
Dominguinhos puxa o fole grita o povo do sertão, um xaxado e um baião nunca que nos amole, tem rádio que é muito mole só toca Calcinha Preta, mel com terra e o capeta que dos ouvidos tenho dó.
Chame isso de outra coisa, mas não chame de forró.
Mas será o benedito que a zabumba foi à lona, o trinâgulo e a sanfona já estão virando mito, ai meu Deus! vou dar um grito e compor outra canção, fazer briga e confusão com a ajuda de Popó.
"Chame isso de outra coisa, mas não chame de forró."
Texto: “ grupo flor Serena (BA) "
( Forró pé-de-serra DF )
Chame isso de outra coisa, mas não chame de forró.
Lá do céu meu Gonzagão ta tocando seu lamento, e eu aqui feito um jumento escutando outra canção, dá uma dor no coração grita Jackson do Pandeiro, como pode um brasileiro chupar cana pelo nó.
Chame isso de outra coisa, mas não chame de forró.
Dominguinhos puxa o fole grita o povo do sertão, um xaxado e um baião nunca que nos amole, tem rádio que é muito mole só toca Calcinha Preta, mel com terra e o capeta que dos ouvidos tenho dó.
Chame isso de outra coisa, mas não chame de forró.
Mas será o benedito que a zabumba foi à lona, o trinâgulo e a sanfona já estão virando mito, ai meu Deus! vou dar um grito e compor outra canção, fazer briga e confusão com a ajuda de Popó.
"Chame isso de outra coisa, mas não chame de forró."
Texto: “ grupo flor Serena (BA) "
( Forró pé-de-serra DF )
.Modernidade Sim! Esculhambação Não!
Modernidade Sim! Esculhambação Não!
É flagrante a queda de nível em alguns ritmos da música brasileira. O Brasil é conhecido mundialmente pela sua diversidade de ritmos musicais. Nenhum outro país do globo é tão rico musicalmente com ritmos regionais. O Forró do nordeste como um todo, o Maracatu de Pernambuco, o Bumba-meu-Boi do Maranhão, O Boi Bumbá do Amazonas, a música gaúcha no caso do Rio Grande do Sul são alguns dos exemplos que podemos citar.
Entretanto, o que assistimos nos últimos anos, é uma depredação e porque não dizer, uma deturpação de vários ritmos e da música brasileira como um todo. A modernidade trouxe muito mais pobreza do que enriquecimento musical, ao menos no caso brasileiro. Senão, vejamos:
O Forró, historicamente sempre foi como a divulgação do dia-a-dia do nordestino. O chamado Forró-pé-de-Serra, bem como o Xote nada mais são do que o Forró original produzido nos mais longínquos rincões do nosso país. Suas letras falam dos problemas sociais, das angústias, da falta de chuva que atinge boa parte do povo daquela região do país. Asa Branca, de Luiz Gonzaga é um forte exemplo disso, vejam abaixo:
1-Quando oiei a terra ardendo
qual fogueira de São João
Eu perguntei, ai a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação.
2-Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d'água perdi meu gado
morreu de sede meu alazão.
3-Até mesmo a asa branca Bateu asas do sertão
Então eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração.
4-Hoje longe muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Para eu voltar pro meu sertão.
5-Quando o verde dos teus oios
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração.
Asa Branca, que dá nome à música, é uma ave típica da região. Uma música que retrata um grave problema social até hoje existente. Pergunto: Quais das bandas de forró da atualidade, fala de questões como essa em suas músicas? As bandas de Forró de hoje, prestam um desserviço à música e até mesmo à cultura do seu próprio povo, o nordestino, pois deixam de retratar tal situação para falar de amenidades, ou o pior, de chifres (traições). Isto sem falar na apelação sexual onde a mulher é frequentemente colocada apenas como um objeto sexual e a modificação do ritmo original com o Forró Eletrônico. Não sou contra modificações e muito menos contra a modernidade. Mas nesse caso, descaracteriza todo o ritmo e ataca a cultura daquela região do país. Tudo isso fruto da ganância de produtores e artistas, ávidos por dinheiro, que imaginam que assim poderão enriquecer mais rapidamente com maior venda de CD’s/DVD”s.
OBS: Trecho de um texto postado em um blog de rock n’roll.
É flagrante a queda de nível em alguns ritmos da música brasileira. O Brasil é conhecido mundialmente pela sua diversidade de ritmos musicais. Nenhum outro país do globo é tão rico musicalmente com ritmos regionais. O Forró do nordeste como um todo, o Maracatu de Pernambuco, o Bumba-meu-Boi do Maranhão, O Boi Bumbá do Amazonas, a música gaúcha no caso do Rio Grande do Sul são alguns dos exemplos que podemos citar.
Entretanto, o que assistimos nos últimos anos, é uma depredação e porque não dizer, uma deturpação de vários ritmos e da música brasileira como um todo. A modernidade trouxe muito mais pobreza do que enriquecimento musical, ao menos no caso brasileiro. Senão, vejamos:
O Forró, historicamente sempre foi como a divulgação do dia-a-dia do nordestino. O chamado Forró-pé-de-Serra, bem como o Xote nada mais são do que o Forró original produzido nos mais longínquos rincões do nosso país. Suas letras falam dos problemas sociais, das angústias, da falta de chuva que atinge boa parte do povo daquela região do país. Asa Branca, de Luiz Gonzaga é um forte exemplo disso, vejam abaixo:
1-Quando oiei a terra ardendo
qual fogueira de São João
Eu perguntei, ai a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação.
2-Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d'água perdi meu gado
morreu de sede meu alazão.
3-Até mesmo a asa branca Bateu asas do sertão
Então eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração.
4-Hoje longe muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Para eu voltar pro meu sertão.
5-Quando o verde dos teus oios
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração.
Asa Branca, que dá nome à música, é uma ave típica da região. Uma música que retrata um grave problema social até hoje existente. Pergunto: Quais das bandas de forró da atualidade, fala de questões como essa em suas músicas? As bandas de Forró de hoje, prestam um desserviço à música e até mesmo à cultura do seu próprio povo, o nordestino, pois deixam de retratar tal situação para falar de amenidades, ou o pior, de chifres (traições). Isto sem falar na apelação sexual onde a mulher é frequentemente colocada apenas como um objeto sexual e a modificação do ritmo original com o Forró Eletrônico. Não sou contra modificações e muito menos contra a modernidade. Mas nesse caso, descaracteriza todo o ritmo e ataca a cultura daquela região do país. Tudo isso fruto da ganância de produtores e artistas, ávidos por dinheiro, que imaginam que assim poderão enriquecer mais rapidamente com maior venda de CD’s/DVD”s.
OBS: Trecho de um texto postado em um blog de rock n’roll.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
.Curiosidades da vida e da carreira de Luiz Gonzaga
· Vamos começar pelo começo: Luiz Gonzaga do Nascimento, segundo filho de Januário dos Santos e de Ana Batista de Jesus, neto de José Moreira Franca de Alencar, NASCEU na Fazenda Caiçara, município de Exu/PE, no dia 13 de dezembro de 1912.
· Luiz Gonzaga foi batizado na matriz de Exu no dia 5 de janeiro de 1913 pelo padre José Fernandes de Medeiros, que sugeriu chamar o menino de Luiz por ter nascido no dia de Santa Luzia, e Gonzaga, porque o nome completo de São Luiz era Luiz Gonzaga; Nascimento, porque dezembro era o mês de nascimento do Menino Jesus.
· E por que Luiz não recebeu o sobrenome da família, Januário dos Santos, como se chamaram os oito irmãos e irmãs dele? NINGUÉM SABE ATÉ HOJE!
· A mãe de Gonzaga, Santana, teve nove filhos; a irmã dela, Nova, também teve nove; Baía teve sete e Vicença, oito. As irmãs criaram os filhos todos juntos. Uma molecada só.
· Certa vez, Januário que era tocador e consertava sanfonas, pediu a Gonzaga, ainda menino, para ajudá-lo na afinação e nos consertos do instrumento. Januário percebeu que Gonzaga não tinha lá muito jeito para a roça, e sim, para a sanfona. Daí então passou a chamar Gonzaga para se revezar com ele nos bailes.
· Com a grande cheia de 1924, o riacho do Brígida inundou os arredores e encheu a casa de Januário de água. A família foi obrigada a se mudar para o povoado do Araripe, na Fazenda Várzea Grande.
· O coronel Manoel Aires foi quem ajudou Gonzaga a comprar sua primeira sanfona, que custou 120 mil réis. Foi numa loja da cidade de Ouricuri, em 1926, ano em que Luiz Gonzaga passou a tocar sozinho (sem a companhia do pai) e se tornar um sanfoneiro profissional.
· Gonzaga participou durante três meses de um grupo de escoteiros em Exu e foi ali que ele aprendeu a ler e escrever. Mas como precisava ajudar os pais na roça, teve que voltar para casa.
· A iniciação sexual de Luiz Gonzaga foi com uma prostituta da região chamada Maria dos Lajes. Pegou logo uma blenorragia e foi tratado pela mãe, Santana, com remédios caseiros.
· O primeiro grande amor de Gonzaga, segundo ele mesmo declarou, foi uma moça chamada Nazarena, que pertencia à família Olindo, branca e importante na cidade de Exu.
· O pai da moça, seu Raimundo, quando soube do namoro, ficou furioso e disse que não queria sua filha namorando com um sanfoneirinho sem futuro e, ainda por cima, negro. Gonzaga sabendo disso, foi num sábado de feira tirar satisfações com o velho. Tomou uma lapada de cana, comprou uma faca pequena e encarou seu Raimundo. Este, percebendo que Gonzaga estava meio bêbado, desconversou e contou o atrevimento do negrinho para Santana. Chegando em casa, Luiz tomou uma surra da mãe.
· Por causa dessa surra, Gonzaga resolveu sair de casa. Disse aos pais que ia tocar no interior do Ceará e, com a ajuda do tangedor José de Elvira, foi s'imbora pro Crato. Chegando lá, separou-se do amigo, vendeu a sanfona e foi para Fortaleza, onde chegou em julho de 1930. Faria 18 anos só em dezembro.
· Gonzaga se alistou no Exército porque mentiu a idade. A lei só permitia depois dos 21 anos e como não exigiram a certidão, Gonzaga se alistou no 23o Batalhão de Caçadores e já no mês seguinte (agosto) estava participando da Revolução de 30 no interior da Paraíba.
· Quando completou 1 ano de Exército, Gonzaga foi mandado para servir no Sul do país e embarcou para o Rio de Janeiro em dezembro de 1931. Depois foi para Belo Horizonte em agosto de 1932 e integrou o 12o regimento da Infantaria. Foi lá que ele ficou sabendo que Nazarena, sua paixão de Exu, havia se casado.
· Em janeiro de 1933, Gonzaga fez um concurso para corneteiro e passou. Adquiriu algumas noções de harmonia, aprendeu a tocar corneta e foi elevado a tambor-corneteiro da 1a classe. Foi quando recebeu o apelido de Bico de Aço.
· Durante o serviço militar, Gonzaga aprendeu a tocar violão. Mas não tomou gosto pelo instrumento.
· Em 1936 era ouvinte da Rádio Tupi e admirava um baiano que começava a fazer sucesso: Dorival Caymmi. Conheceu naquele mesmo ano um colega soldado que tinha uma sanfona. Tomou gosto novamente pelo instrumento e pediu a Carlos Alemão, fabricante de sanfonas, que lhe fizesse uma. Demorou três meses. Tinha 48 baixos.
· Passou a tocar nas festas de Juiz de Fora e, depois, em Ouro Fino, para onde se transferiu em 1937. Nessa cidade, havia um advogado, o dr. Raul Apocalipse, que organizava espetáculos no clube Éden, e chamou Gonzaga para tocar lá. Foi a primeira vez que o exuense cantou num palco de verdade. Tocava músicas de Almirante, Antenógenes Silva e Augusto Calheiros.
· Completados dez anos de Exército, Gonzaga teve que sair por força da lei. Então, no dia 27 de março de 1939, Gonzaga embarcou num trem para o Rio de Janeiro e, na mala, uma passagem de volta para o Recife (de navio) e daí até Exu.
· MAS Gonzaga resolveu dar uma esticada ao bairro do Mangue, no Rio, onde havia muitos bares, verdadeiros "inferninhos" cariocas, e por ali passava muita gente.
· Passou a tocar no meio da rua, juntando gente, passando o prato, e chamou a atenção dos donos de bares. Conheceu o músico baiano Xavier Pinheiro e foi morar com ele, no Morro de São Carlos.
· Gonzaga se apresentou no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso, tocando valsa e tango e só recebia nota 3. No dia em que tocou "Vira e Mexe", recebeu nota 5. E foi muito aplaudido. Percebeu, então, que o negócio era tocar a música nordestina.
· A primeira participação de Gonzaga num disco aconteceu no dia 5 de março de 1941. Foi chamado, então, para fazer o acompanhamento na música "A Viagem do Genésio", na Victor (depois, RCA). O disco saiu em maio.
· Mas o primeiro disco com Luiz Gonzaga artista individual nasceu no dia 14 de março de 1941 quando foi chamado não mais para acompanhar outro artista, mas ele próprio sendo a figura principal. Seu primeiro disco, portanto, saiu em maio. Era um 78 rotações com a mazurca "Véspera de São João" e a valsa "Numa serenata". Em junho, Gonzaga foi lançado com o xamego "Vira e Mexe" e a valsa "Saudades de São João del=Rei".
· A primeira reportagem com Luiz Gonzaga saiu na revista Vitrine e tinha por título: "Luiz Gonzaga, o virtuoso do acordeon". Era assinada por Aldo Cabral, jornalista e compositor.
· Ainda em 1941, Gonzaga lançou mais dois 78 rotações. No primeiro, gravou "Nós queremos uma valsa" e o chorinho "Arrancando caroá", de sua autoria. No segundo disco, gravou "Farolito" (Augustin Lara) e "Segura a polca" (Xavier Pinheiro).
· Em meados de 1943, Luiz assinou o seu primeiro contrato para se apresentar fora do Rio de Janeiro. Era uma temporada no Cassino Ahú, em Curitiba. A imprensa local o chamou de "o maior acordeonista brasileiro". Lá, Luiz se apresentou durante 45 dias e se revelou também intérprete de suas canções. Luiz tornou-se cantor.
· Mas, ao chegar na Rádio Tamoio, da qual era contratado, Gonzaga viu o seguinte aviso: "Luiz Gonzaga está terminantemente proibido de cantar, por ter sido contratado como sanfoneiro". O aviso era assinado por Fernando Lobo, que anos depois se arrependeu da besteira que fez com Luiz.
· Aí Luiz foi tentar a sorte na Victor (depois RCA Victor)_. E lá, a obstinação era a mesma. Todo mundo só admitia Gonzaga como sanfoneiro, nunca como cantor. Gonzaga passou a acompanhar Bob Nélson em várias temporadas e tornaram-se amigos.
· Como Gonzaga não conseguia cantar, passou a dar suas músicas para outros artistas cantarem. Sua primeira intérprete foi Carmem Costa, que gravou "Xamego" em fevereiro de 1944.· Alguns anos depois, Carmem Costa negou que tivesse sido um dos "casos" de Luiz Gonzaga.
· Ainda em 1944, Carmém gravou "A mulher do Lino", de Luiz Gonzaga e Miguel Lima (este, o primeiro grande parceiro de Gonzaga) e, no ano seguinte, gravou "Bilu, Bilu" e "Sarapaté".
· Aí Luiz conheceu Manezinho Araújo, pernambucano como ele, embolador já de nome. No dia 12 de fevereiro de 1945, Manezinho gravou "O xamego de Guiomar", com música de Gonzaga e letra de Miguel Lima. Depois veio "Dezessete e Setecentos".
· Gonzaga só conseguiu cantar num disco quando mentiu dizendo que ia gravar na Odeon como cantor. Aí Vitório Latari, seu diretor, se rendeu e perguntou: "O que você tem aí pra gravar?"
· Gonzaga tinha um bocado de músicas. Naquele dia, ele contou: participara de 25 discos como sanfoneiro. E pela primeira vez, realizaria seu sonho de ser cantor.
· No dia 11 de abril de 1945 Gonzaga entrou no estúdio da Victor para gravar sua primeira música como cantor: "Dança Mariquinha", uma mazurca de sua autoria, com letra de Miguel Lima. No lado B gravou a instrumental "Impertinente".
· O lançamento não teve nenhuma repercussão. Mas em junho, Gonzaga voltou ao estúdio da Victor para gravar seu segundo disco como cantor. Gravou o xamego "Penerô Xerém" (parceria com Miguel Lima) e "Sanfona Dourada", um instrumental.
· Em setembro, vai Luiz de novo para o estúdio e grava a mazurca "Cortando o pano", com letra de Miguel Lima e Jeová Portella. Em novembro, a música foi lançada e estourou nas paradas. Aí Luiz se fez cantor de verdade.
· Em setembro, Luiz já assinara contrato com a Rádio Nacional, e realizou assim seu grande sonho, que era cantar na emissora dos maiores talentos.
· Nessa época, Gonzaga tinha como companheira Odaléia Guedes (que conhecera em 44), mais conhecida como Léa, que tornou-se mãe de LUIZ GONZAGA DO NASCIMENTO JÚNIOR. O Gonzaguinha nasceu no dia 22 de setembro de 1945.
· Gonzaga disse certa vez à sua última mulher, Edelzuíta Rabelo, que só hospedou Odaléia na sua casa porque ela estava sozinha e grávida, sem ninguém que lhe socorresse. Por isso, sabe-se hoje, que Gonzaguinha não era filho biológico do Rei do Baião.
· Gonzaga também nunca negou que era estéril.
· Uns diziam, na época, que Gonzaguinha era filho de Armando, violonista da Nacional, e outros asseguravam que o menino era filho de Nelsinho do Trombone.
· A relação de Gonzaga e Odaléia foi muito agitada, com muitas brigas. Gonzaga chegou a levar uma surra dos irmãos dela. E foi morar com o irmão José Januário na casa de uma cafetina.
· Mas Gonzaga queria cantar as coisas do Nordeste e procurou um parceiro que lhe desse as letras falando de sua origem. Até que encontrou HUMBERTO TEIXEIRA, um cearense de Iguatu nascido em 1915 e que vivia no Rio desde 1930. Humberto começou estudando Medicina, mas se decidiu mesmo por Direito.
· Os dois se conheceram em agosto de 1945 e, em dez minutos, fizeram, juntos, "No meu pé de serra" e se emocionaram quando concluíram a música, porque afinal os dois eram nordestinos e sentiam a mesma saudade da terra natal.
· Mas a música só seria gravada em novembro do ano seguinte (1946).
· A segunda música que fizeram juntos colocou Gonzaga nas paradas e fez surgir um novo gênero na música popular brasileira. "Baião" (Eu vou mostrar pra vocês como se dança o baião) era o nome da música e tornou-se também o ritmo que faria sucesso dali em diante.
· "Baião" foi lançada de forma planejada, para levar o gênero ao Nordeste partindo do Sul, sempre chegando às capitais, para que a música nordestina fosse urbanizada. O lançamento foi em outubro de 1946.
· Mas, para surpresa de todos, Gonzaga deu a música para que o grupo os Quatro Ases e um Coringa gravasse e a fizesse conhecida pelo país todo.
· Com esse grupo, mais estilizado, Gonzaga achou que a música chegaria mais longe, sem preconceitos. E chegou mesmo. É tanto, que Luiz só a gravaria de verdade três anos depois.
· A mãe de Gonzaga, dona Santana, esperou 16 anos para ver o filho de volta a Exu e, como ele não voltava, resolveu visitá-lo em meados de 1946. Santana viajou com a filha Geni num navio a vapor, durante 17 dias, até chegar ao Rio.
· Gonzaga tirou férias da Rádio Nacional e quis visitar Exu. Foi quando viajou de avião pela primeira vez. A mãe e a irmã voltaram de vapor.
· No Araripe, Gonzaga ficou 12 dias. Foram doze dias de festas, de bailes, de alegria na família do rei.
· Passando nessa viagem por Recife, Gonzaga gravou um comercial para as Casas Pernambucanas. Ganhou muitos tecidos e mandou para a família em Exu. Com o cachê, Gonzaga comprou seu primeiro carro zero quilômetro, uma Nash, que despachou de navio para o Rio de Janeiro.
· Foi aí que Gonzaga conheceu ZÉ DANTAS, filho de Carnaíba, estudante de Medicina e conhecedor das coisas sertanejas. Gonzaga estava hospedado no Grande Hotel e Zé Dantas foi lá para conhecê-lo, levando uma música pela qual Gonzaga logo de apaixonou: "Vem Morena".
· A amizade de Luiz e Zé Dantas só se consolidaria em 1950, quando o médico/compositor foi morar no Rio de Janeiro para estagiar no Hospital dos Servidores.
· Mas, voltando à viagem de Gonzaga: quando ele retornou ao Rio em 1947, depois das férias em Exu, gravou "A moda da mula preta", de Raul Torres.
· Em março, Lua gravou um 78 rotações que tinha, no lado A, "Vou pra Roça" e, no lado B, "Asa branca".
· Pronto: Asa branca! Mas era uma música que ele e Humberto Teixeira fizeram sem muita expectativa, sem alarde, porque achavam que seria mais uma.
· E não foi. Asa branca seria o marco principal na carreira e na vida de Luiz Gonzaga. Foi cantando essa música que Gonzaga participou do seu primeiro filme, Esse Mundo é um Pandeiro, de Watson Macedo, o rei das chanchadas.
· Helena das Neves Cavalcanti: esse era o nome de uma contadora e tiete de Gonzaga que ele conheceu no vigésimo-segundo andar da Rádio Nacional em julho de 1947. Helena era pernambucana de Recife e havia perdido o pai, farmacêutico em Gravatá, aos 5 anos de idade.
· Helena fora morar no Rio em 1944. Depois que conheceu Gonzaga, para quem escrevera a fim de conhecê-lo, tornou-se sua secretária. Afinal, também era contadora e poderia administrar a fortuna de Gonzaga.
· Na temporada que Gonzaga fez na Rádio Clube, em Recife, no final de 1947 (era 15 de dezembro, quando desembarcou no Aeroporto dos Guararapes), trouxe Helena com ele e mandou chamar sua mãe, Santana, para conhecê-la. Aí a velha se engraçou muito de Helena e aprovou o casamento.
· As irmãs de Gonzaga dizem hoje que Gonzaga não parecia muito empolgado com o casamento. A verdade é que em fevereiro de 48, já noivo de Helena, Gonzaga mantinha um caso com Elza Laranjeira, cantora na Record em São Paulo.
· No dia 16 de junho de 1948, Gonzaga se casou com Helena no Rio de Janeiro, na Igreja de Nossa Senhora de Aparecida, no bairro de Cachamby. Os padrinhos de Gonzaga foram Miguel Lima e esposa; e os de Helena foram Mário Reis (que não era o cantor) e esposa.
· Ao se casarem, Gonzaga ia completar 36 anos (no dia 13/12) e Helena tinha 22.
· O casal e a mãe de Helena, dona Marieta, foram morar na rua Vereador Jansen Muller, 425, no bairro de Cachamby. (Naquela época se escrevia com y)
· Em 1948, a RCA Victor não tinha onde prensar seus discos porque havia rompido com a firma inglesa responsável pela prensagem.
· Só em 1949 é que Gonzaga voltou a fazer sucesso com "Légua Tirana", uma toada triste.
· Em junho daquele ano, Gonzaga inaugurou a prensa "zero quilômetro" da RCA com a música "Mangaratiba" de um lado do disco, e "Lorota Boa" do outro.
· No mesmo dia, Gonzaga deixou gravada "Juazeiro", cuja melodia o velho Januário já tocava quando Gonzaga era menino, e Humberto botou uma nova letra.
· Uma curiosidade: "Juazeiro" chegou a ser gravada pela cantora americana Peggy Lee, numa versão dos compositores Harold Steves e Irving Taylor.
· O cantor Francisco Carlos chegou a fazer sucesso com duas músicas de Gonzaga/Humberto Teixeira: "Me deixa em paz" e "Meu brotinho".
· Quando Gonzaga resolveu levar toda a família para o Rio de Janeiro, bateu de frente com um impasse: Santana não iria de barco porque queria levar toda a mudança; e Januário não viajaria de avião porque, segundo o velho, não era urubu para voar no céu. Aí Gonzaga alugou um caminhão pra pegar todo mundo. Era o dia 1o de novembro de 1949 quando a família de Gonzaga se mudou para o Sul.
· Em janeiro de 1950, o médico Zé Dantas deixou Recife para também morar no Rio de Janeiro.
· A música "Vem Morena" tem a parceria de Luiz Gonzaga, mas na verdade é toda de Zé Dantas. É que Gonzaga botou seu nome pra ver se amenizava qualquer polêmica que surgisse entre Zé Dantas e seu pai, que poderia suspender sua mesada e proibir seus estudos por ter se tornado compositor. O pai não queria isso.
· Zé Dantas foi recebido no Rio por Gonzaga, Humberto e Péricles.
· Um dia, Humberto Teixeira, que era um bom orador, recebeu incentivo para se candidatar a deputado federal. E acabou entrando para a política, deixando uma brecha providencial para Zé Dantas como compositor.
· Zé Dantas era obstetra e trabalhava no Hospital dos Servidores, do Rio de Janeiro. Gonzaga sempre achou Zé Dantas mais sertanejo, mais telúrico do que Humberto Teixeira, embora este compusesse em qualquer tema.
· A primeira banda que Gonzaga formou para acompanhá-lo tinha dois componentes: Zequinha, no triângulo, à sua esquerda, e João André Gomes, vulgo Catamilho, na zabumba, à sua direita.
· Depois de dois anos de casados, e sem ter menino em casa, Gonzaga fez um exame médico e descobriu que era estéril. Aí o casal adotou uma menina de nome Rosa Maria, mais conhecida como Rosinha, que Helena sempre tentava apresentar como filha legítima do casal.
· Uma vez correu o boato que Gonzaga havia matado Helena porque havia encontrado a mulher atrás de um piano agarrada com Assis Chateubriand. O boato depois é que teria só cortado a orelha de Helena. Quando Helena mostrou a orelha, disseram que era de plástico. Quem contou isso foi a própria Helena.
· O irmão mais novo de Luiz, José Januário, sempre teve o apoio de Gonzaga no Rio de Janeiro. Foi o Rei do Baião que sugeriu a Januário que mudasse o nome dele para Zé Gonzaga, pra todo mundo saber que ele era seu irmão e, assim, dar-lhe oportunidade de fazer sucesso.
· Em maio de 1951, Luiz Gonzaga sofreu um acidente de carro e quase morre. Zequinha estava dirigindo e, em vez de seguir para a Via Dutra, entrou na avenida Brasil. Como Zequinha estava com sono, Gonzaga pediu o volante com raiva e, dentro de quinze minutos, bateu com o carro e caiu de uma altura de 15 metros. Eram 5 horas da manhã.
· Saldo do acidente: Gonzaga quebrou seis costelas e a clavícula; Zequinha quebrou o queixo e Catamilho arrebentou as costas.
· Ainda em 1951, Gonzaga sofreu outro acidente de carro, mas nada sério com ele e os músicos. Dona Santana foi quem mais sofreu: perdeu um dedo, porque a mão dela estava pra fora. O acidente foi provocado por uma roda que saltou do carro.
· Zé Dantas, Humberto Teixeira e Gonzaga faziam o programa No Mundo do Baião, na Rádio Nacional. O compositor e médico Zé Dantas era também produtor do Cancioneiro Rayol. O sertanejo sabia contar estórias, imitar as vozes dos animais e falar feito matuto.
· Zé Dantas e Humberto Teixeira apenas se aturavam. Até que um dia os dois brigaram feio e se intrigaram de verdade. Gonzaga também se aborreceu com Humberto e os dois brigaram.
· Dizem que Humberto Teixeira achava que, na parceria, ele deveria ganhar mais do que Gonzaga porque sua participação era mais importante. Helena se metia achando que não. A família de Gonzaga, por outro lado, reclamava dizendo que Asa Branca, Juazeiro e No Meu Pé de Serra eram músicas feitas pelo velho Januário, e era ele que deveria receber os direitos autorais. Nessa época, os sucesso fazia todos brigarem entre si.
· Gonzaga então declarou abertamente que sua nova paixão musical era Zé Dantas. E mais ninguém. Essa decisão de Gonzaga foi ruim, porque Humberto era o homem dos direitos autorais, homem de conhecimentos, que impediu Gonzaga de receber corretamente seus direitos.
· Mesmo assim, Gonzaga preferiu ficar com Zé Dantas.
· Dona Iolanda, viúva de Zé Dantas revela hoje que muitos sucessos da parceria Gonzaga/Zé Dantas eram na verdade só de Zé Dantas, que as gravava num gravador enorme e mostrava para Luiz quando este passava pelo Rio.
· E Zé Dantas dava a parceria sem reclamar. Pelo menos para Gonzaga, porque para os amigos o médico chegou a lamentar essa situação.
· Helena, muito sabida, e percebendo a fisionomia contrariada de Zé Dantas, chegava a dizer a este: "Ô doutor, o senhor não acha que fica mais bonito quando se bota no disco Luiz Gonzaga e Zé Dantas?" Afinal, era ela que controlava o dinheiro que entrava dos direitos autorais.
· Tanto que, em 1952, Gonzaga só gravou duas músicas com a participação de Zé Dantas: Imbalança e São João na Roça. Naquele ano, Gonzaga arrumou um novo parceiro: Hervê Cordovil, que era maestro da Record. Foi Carmélia Alves que apresentou um ao outro.
· No final de 1951, os Laboratórios Moura Brasil contrataram Luiz Gonzaga para fazer uma excursão pelo país todo, de Porto Alegre a Belém. E tudo isso de caminhonete. A turnê durou um ano.
· Na passagem pelo Recife, Gonzaga estreou na Rádio Tamandaré e bateu o recorde de bilheteria. Teve que fazer mais dois shows, o que valeu uma renda fabulosa de 80 mil cruzeiros.
· Além do cachê, Gonzaga recebeu do Moura Brasil um Jipe, quando o prometido era um Cadillac.
· Zé Dantas se reconciliou com Gonzaga e passou a freqüentar a casa de Januário e Santana que
Gonzaga lhes deu de presente em Santa Cruz da Serra, no Rio. Foi ali que Zé Dantas, ao lado da família de Gonzaga, num ambiente sulista que mais parecia roça nordestina, que ele voltou a compor.
· Quem fez a introdução da música "São João na Roça" foi o velho Januário. Gonzaga e Zé Dantas pelejaram e não acharam um jeito de dar uma boa introdução à música. Januário fez isso em poucos minutos na sua safoninha de oito baixos.
· Uma vez, Gonzaga juntou o velho Januário e mais cinco irmãos e fez um grupo chamado Os Sete Gonzaga para se apresentar na Rádio Tamoio. O sucesso foi tanto que a temporada se prolongou por dois meses.
· Em 1953, Catamilho, que bebia muito, foi posto pra fora do grupo e até surgiu um boato de que Gonzaga havia matado o músico por causa de Helena. Os boatos foram tantos que Gonzaga se viu obrigado a contratar Catamilho de novo só para provar ao povo que o homem estava vivo!
· Mas Catamilho continuou bebendo muito e acabou saindo de vez. No seu lugar entrou o anão Osvaldo Nunes Pereira, que Gonzaga conheceu trabalhando num posto de gasolina, em Jequié, na Bahia.
· Zequinha, solidário com Catamilho, também pediu pra sair do grupo em plena excursão pelo Ceará. Gonzaga se viu de repente sem acompanhantes. Mandou buscar um engraxate engraçado de nome Juraí Miranda, que morava no Piauí. Antes de um show em Santo Antonio de Jesus, Gonzaga parou num riacho para ensaiar com os dois novos componentes que nem de música entendiam.
· Aquele era o dia 23 de outubro de 1953. Luiz botou nome artístico nos dois recém-formados músicos. Osvaldo, o anão, iria ser chamado de Xaxado. E Juraci seria chamado de Cacau.
· O anão Xaxado depois ficou sendo chamado de Salário Mínimo.
· Gonzaga, nessa época, viajava demais. Não parava em casa. Helena é que ia se encontrar com ele nos locais onde fazia show.
· Foi, por isso, que Hervê Cordovil fez a música "Vida de Viajante".
· Ainda em 1953, Gonzaga e Zé Dantas fizeram o Xote das Meninas, A letra I, ABC do Sertão, Algodão e Vozes da Seca. A música A Letra I era uma referência à noiva de Zé Dantas, Iolanda, com quem ele viria se casar no dia 26 de junho de 1954.
· Durante uma segunda excursão da Moura Brasil, Gonzaga cantou em Garanhuns/PE e conheceu o sanfoneiro Dominguinhos, de 14 anos, fazendo parte de um trio chamado Os Três Pingüins. O da sanfona era Nenén, que depois seria conhecido por Dominguinhos.
· Em 1955, Gonzaga tomou conhecimento de uma tal Patrulha de Choque de Luiz Gonzaga, um trio de imitadores de Luiz Gonzaga formado por Marinês, que cantava e tocava triângulo; Abdias, seu marido, na sanfona, e Chiquinho, o cunhado, na zabumba.
· Em 1955, numa festa em Propriá, o prefeito Pedro Chaves promoveu o encontro de Marinês com Gonzaga.
· Em março de 56, a convite de Gonzaga, Marinês e Abdias desembarcaram no Rio de Janeiro e ficaram hospedados na casa do rei do baião, que coroou Marinês a Rainha do Xaxado, numa apresentação na Rádio Mayrink Veiga.
· Por fim, Gonzaga formou um grupo para acompanhá-lo, com Marinês, Abdias, Zito Borborema e Miudinho. Era chamado de Luiz Gonzaga e seus Cabras da Peste.
· Por conta do ciúme que Helena tinha de Marinês, o grupo logo se desfez no final daquele mesmo ano.
· Aí a cantora formou um grupo chamado Marinês e sua Gente, com Abdias e Cacau, e conseguiu fazer sucesso nos palcos brasileiros. Ela ainda hoje diz que foi a primeira mulher a cantar forró. Gravou seu primeiro disco pela Sinter, em 1957.
· Nesse mesmo ano, Helena idealizou a criação de um novo grupo inspirado no trabalho de Gonzaga. Aí juntou Zito Borborema, Miudinho e Dominguinhos, que aquela altura já estava morando no Rio, tentando gravar um disco. O grupo passou a se chamar Trio Nordestino e era empresariado por Helena, a mulher de Gonzaga.
· No final dos anos 50, Gonzaga entrou numa fase de declínio, com a chegada da bossa-nova e do rock and roll tupiniquim. A classe média e as elites deixaram Luiz Gonzaga de lado e quiseram sepultar o baião. Foi então que Gonzaga passou a cantar mais no interior, onde sempre foi e seria eterno ídolo. Contratou o anão Oswaldo, de novo, para tocar triângulo, e mais Azulão na zabumba, e fez muitos shows pelo interior do Brasil.
· Foi numa dessas andanças, em Mato Grosso, que ele reencontrou-se com Nazarena, seu primeiro amor, já casada e mãe de família.
· Helena, a mulher de Gonzaga, foi ficando cada vez mais ciumenta e disposta a tomar conta da carreira do marido. Diziam que ela era autoritária e vivia criticando os amigos mais próximos de Gonzaga.
· Ela também queria ser popular. Em 1958, Helena entrou na política e, pela UDN, elegeu-se vereadora de Miguel Pereira, no estado do Rio.
· A partir de 1958, Gonzaga gravou pouca coisa de Zé Dantas, que, por sua vez, passou a registrar suas criações apenas em seu nome, não dando mais a parceria a Gonzaga.
· Santana, a mãe de Gonzaga, sofria do Mal de Chagas e faleceu no dia 11 de junho de 1960 no Rio de Janeiro, onde foi enterrada. Depois, seus restos mortais foram transferidos para o cemitério de Exu.
· Ainda em novembro de 1960, o velho Januário voltou a casar. Conheceu Maria Raimunda de Jesus, de 32 anos e, no dia 5 daquele mês, selou sua segunda união na Igreja de Exu, mas só depois do consentimento de Gonzaga.
· Esse casamento de Januário e Maria Raimunda durou 18 anos.
· Gonzaga já não vendia tantos discos como antes, e, para continuar sustentando a família, vendeu seu palacete e comprou um apartamento pequeno, na rua Pereira Alves, 255, em Cocotá, na Ilha do Governador.
· Em 1961, Gonzaguinha, com 16 anos de idade, passou a morar com o pai em Cocotá.
· O anão Osvaldo, que tocava triângulo no grupo de Gonzaga, contou que o patrão trabalhou na campanha de Jânio Quadros de graça! Só os músicos recebiam o cachê.
· Em 1961, na cidade de Sumé, na Paraíba, Gonzaga conheceu o compositor José Marcolino, com muitas músicas prontas. Aí Gonzaga mandou buscá-lo depois para, no Rio de Janeiro, prepararem o repertório do LP daquele ano.
· Gonzaga sofreria um outro acidente de carro em 1961. Andando num carro velho, a porta se abriu, Gonzaga bateu com a cabeça no chão, sofreu uma fratura no crânio e teve o olho direito gravemente ferido. A sorte dele foi que havia uma farmácia por perto, onde recebeu os primeiros socorros, ou, segundo dizem, teria morrido.
· Nesse acidente, Gonzaguinha e Osvaldo sofreram leves arranhões. Mas Gonzaga ficou um mês internado. Isso fez com que o disco ficasse para ser gravado em janeiro de 1962.
· Era o LP Véio Macho, que tinha seis parcerias dele com José Marcolino, duas músicas de Zé Dantas, uma de Onildo Almeida, outra de Rosil Cavalcanti e uma parceria de João do Vale com Helena, que na verdade só entrou porque João era de uma sociedade autoral diferente e teve que colocar o nome de Helena, em vez do nome de Gonzaga.
· Zé Dantas não chegou a ouvir esse disco. Morreu no dia 11 de março de 1962, após longa doença na coluna vertebral que o mantivera hospitalizado durante quase um ano. Morreu aos 41 anos de idade. Gonzaga não compareceu ao enterro, em Pernambuco, porque ainda estava se recuperando do acidente de carro. Diziam até que a família de Zé Dantas ficou magoada com a ausência de Gonzaga.
· Ainda nesse ano em que perdia Zé Dantas, Gonzaga conheceu um parceiro importante na sua carreira: João Silva.
· Gonzaga acabou sendo contratado pela Mayrink Veiga para uma temporada entre 62 e 63, com sucesso.
· Em 1963, Gonzaga lançou "A Morte do Vaqueiro", uma música de protesto e de homenagem a seu primo legítimo Raimundo Jacó, que fora assassinado em 1954. Essa música foi composta na rua Vidal de Negreiros, número 11, no Recife. Gonzaga deu o mote a Nelson Barbalho e a música saiu ligeiro, nos acordes de Luiz e nos versos de Barbalho.
· Gonzaga entrou para a maçonaria, no Rio, e chegou ao terceiro grau. Ficou sem tempo para continuar.
· Em 1964, Gonzaga comprou um terreno em Exu. Naquele ano gravou dois LPs. Lançou Sanfona do Povo, um lamento pela sanfona roubada no Rio, e cuja história todo mundo ficou sabendo. Luiz Guimarães fez a letra e tornou-se o novo parceiro de Gonzaga.
· O segundo LP trouxe uma das músicas mais conhecidas do seu repertório: A Triste Partida, uma mistura de lamento e de protesto escrita por Antonio Gonçalves da Silva, o popular Patativa do Assaré. A música tem 152 versos.
· Gonzaga ainda pediu a parceria da música a Patativa, que, indignado, mandou o sanfoneiro "plantar feijão". Assim mesmo, Gonzaga gravou e fez sucesso. Depois, não gravou mais nada do compositor cearense.
· Em 1966 saiu um livro com a biografia de Luiz Gonzaga escrito por Sinval Sá. O livro não foi às livrarias. Era Gonzaga mesmo quem vendia.
· Em 1967, Gonzaga andava meio esquecido. A Jovem Guarda estava na onda. Aí, junto com José Clementino, fez o Xote dos Cabeludos, um protesto gravado no disco Ói Eu Aqui de Novo, que trazia a participação de João Silva, compositor que o acompanharia pelos próximos 20 anos.
· É bom registrar que, em 1965, Geraldo Vandré, esquerdista convicto, gravara Asa Branca, de um Luiz Gonzaga chamado de direitista. Aí Gonzaga retribuiu gravando, em 1968, um compacto simples com a música Caminhando, grande sucesso de Vandré.
· Gonzaguinha se formou em Economia para atender a um desejo do pai. Mas nem sequer foi buscar o anel da formatura. Queria mesmo era ser músico, sobretudo letrista. Em 1968, Gonzagão gravou quatro músicas do filho.
· Nesse disco entrou também o pernambucano Rildo Hora, que teria grande importância na carreira de Gonzaga.
· Ainda em 1968, Luiz fez as pazes com Humberto Teixeira, que o trouxe de volta à UBC (União Brasileira de Compositores). Saiu logo um disco intitulado Meus Sucessos com Humberto Teixeira.
· Um dia, Carlos Imperial criou um boato dizendo que os Beatles iriam gravar Asa Branca. Aí a imprensa começou a procurar Luiz Gonzaga, fazer entrevistas, gravar programas, pagando cachê, um rebuliço geral. E então Luiz voltou a ser notícia, ainda mais depois de Gil e Caetano terem dito que suas influências teriam sido as músicas de Luiz Gonzaga.
· A partir de 1969, Dominguinhos já fora do Trio Nordestino (agora com Lindu) passou a acompanhar Gonzaga em seus shows. Era a segunda sanfona e também seu chofer. Numa dessas andanças, Dominguinhos conheceu Anastácia, e aí começou uma relação de amor e música.
· Com padre João Câncio, Gonzaga criou a Missa do Vaqueiro, em homenagem a Raimundo Jacó, o vaqueiro assassinado em 1954, e que era seu primo legítimo. A missa tinha a participação dos irmãos Bandeira e dos vaqueiros da região.
· Um disco de Caetano Veloso, gravado no exílio, era cantado todo em inglês, menos uma música: Asa Branca. Ao ouvir a música pela primeira vez, numa loja de disco, Gonzaga chorou.
· Gonzaga gravou um disco produzido por Rildo Hora chamado O Canto Jovem de Luiz Gonzaga, interpretando só músicas de Caetano, Gil, Antonio Carlos e Jocafi, Edu Lobo, Vandré, Dori Caymmi e Gonzaguinha. A moçada da MPB estava redescobrindo o velho Lua.
· Em agosto de 1971, Luiz Gonzaga deu uma entrevista ao Pasquim, que o chamou de "a figura mais importante da música popular brasileira".
· Em março de 1972, Gonzaga se apresentou no Teatro Teresa Raquel num show chamado Luiz Gonzaga Volta Pra Curtir, produzido por Capinam. Os estudantes foram sua platéia.
· Mas Gonzaga não estava cantando mais o que queria, do que realmente gostava. E queria voltar às suas raízes.
· Em 1972, pediu à RCA um adiantamento para comprar uma Veraneio, para usar em suas andanças pelo país. A RCA negou o dinheiro e Gonzaga se afobou: rompeu um contrato de 32 anos e foi bater na Odeon, onde Fernando Lobo o esperava com o dinheiro do carro Veraneio.
· Na Odeon, Luiz ficou dois anos. Lá, gravou cinco discos, mas apenas 26 músicas inéditas. O único grande sucesso pela odeon foi Samarica Parteira, do LP Sangue Nordestino (1974), uma obra escrita por Zé Dantas que Gonzaga cantava em seus shows mas nunca havia gravado.
· Em 1973, Gonzaga recebeu o título de Cidadão Paulista.
· Ainda naquele ano, recebeu uma missão das mãos do governador de Pernambuco, Eraldo Gueiros: como mediador, Gonzaga tentaria pacificar a cidade de Exu, onde imperava a violência entre as famílias Sampaio e Alencar.
· Para isso, Gonzaga inventou de se candidatar a deputado federal pelo MDB. Foi salvo por um conselho do amigo Padre Câncio, que o fez ver da besteira que poderia ser aquela decisão. Padre Câncio disse a ele que Gonzaga era o cantor, o sanfoneiro consagrado; que, se eleito, seria só mais um deputado. E nem votaria nele! Aí Gonzaga despertou e desistiu de ser candidato.
· Gonzaga era, bem declarado, adepto dos militares. Cantava para eles, era querido por eles, e vivia perto deles, sempre. Já o filho Gonzaguinha era da esquerda, andava com os universitários que repudiavam a ditadura, e, por isso, os dois a partir de certo momento ficaram de relações cortadas.
· Gonzaga, o pai, chegou a defender a Censura e deixou seus seguidores meio atordoados. Ele chegou a dizer que "essa coisa de tortura é jogada dos comunistas".
· Durante o Governo Médici, Gonzaga recebeu a notificação que haviam sido censuradas três músicas dele: Asa Branca, Vozes da Seca e Paulo Afonso. Helena defendeu Gonzaga na Censura e conseguiu reverter a situação.
· Em 1972, Gonzaga criou a casa Forró Asa Branca, na Ilha do Governador, onde fez muitos shows até 1974, quando Helena e as cunhadas brigaram e puseram tudo a perder.
· Em 1975 não foi lançado nenhum disco inédito.
· Helena, como empresária, lançou naquele ano Os Novos Gonzaga (com os sobrinhos de Lua) e As Januárias (as sobrinhas).
· Saiu Dominguinhos e entrou Joca, seu sobrinho, para acompanhar Gonzaga. Ficou 1 ano ao lado do tio e depois, com o nome de Joquinha Gonzaga, seguiu sua própria carreira.
· Numa viagem que fez do Recife para Brasília, em 1975, Gonzaga conheceu Edelzuíta Rabelo, que seria sua última companheira.
· Edelzuíta já conhecera Gonzaga em Caruaru, onde, nessa ocasião, estava noiva do radialista Ludogério, que acabou morrendo num desastre de avião três anos antes do segundo encontro de Gonzaga e Edelzuíta.
· De volta à RCA, Gonzaga lançou em 1976 o LP Capim Novo. A música que dizia "Certo mesmo é o ditado do povo: pra cavalo velho o remédio é capim novo" retratava o momento que ele vivia ao lado da namorada Edelzuíta, então com apenas 35 anos, e ele já com 63.
· Capim Novo acabou entrando na trilha sonora da novela Saramandaia e Luiz entrou também nas paradas de sucesso. Nesse mesmo ano, a TV Globo fez um especial com ele. Foi exibido em duas partes, nos dias 13 e 20 de agosto de 1976.
· Em 1977, Gonzaga fez o projeto Seis e Meia ao lado de Carmélia Alves, no Teatro João Caetano. Foi lançado um LP com os dois em agosto daquele ano.
· Em abril de 77 já havia sido lançado o LP Chá Cutuba, na mesma veia de Capim Novo e Ovo de Codorna. Nesse disco, Gonzaga gravou uma música de gratidão a Benito di Paula, que havia citado seu nome em Charlie Brown e feito a bela Sanfona Branca em homenagem a Luiz.
· Nesse LP, uma curiosidade: duas músicas assinadas por Humberto Teixeira, sozinho, sem a parceria de Gonzaga.
· Gonzaga entrou em 1977 na versão brasileira da famosa Enciclopédia Universal Britânica.
· No dia 11 de junho de 1978 morreu o velho Januário, pai de Gonzaga, exatamente 18 anos depois da morte da mulher, Santana. No ano seguinte, Gonzaga gravou o disco Eu e Meu Pai em homenagem ao velho.
· Ainda nesse disco foi gravada a última música que Humberto Teixeira compôs para Gonzaga: Orélia.
· Também nesse ano morria Humberto Teixeira, seu grande parceiro.
· Nessa mesma época, Gonzaga e Gonzaguinha fizeram as pazes e gravaram juntos Vida de Viajante.
· Uma vez, Gonzaga teve um encontro com o general João Figueiredo e este lhe perguntou: "Cadê seu filho? Por que ele não gosta de mim? Diga a ele que me deixe em paz".
· Gonzaga falou certa vez em lançar Helena, a esposa, candidata a prefeita de Exu. Helena não quis.
· No início de 1980 participou da temporada Sabor Brasil, promovida pela Souza Cruz, ao lado de Clara Nunes, Altamiro Carrilho, Waldir Azevedo, João Nogueira e João Bosco.
· Nesse ano foi lançado o disco Homem da Terra, sem grandes novidades, a não ser os dispensáveis violinos, sem contar que a faixa título era um comercial para o Bamerindus.
· Mas em 1981 veio um LP bonito, intitulado A Festa, com a participação de Gonzaguinha, Emilinha Borba, Dominguinhos e Milton Nascimento, este último em dueto com Gonzaga na música Luar do Sertão.
· Foi nesse ano que Gonzaga passou a ser chamado de Gonzagão. Ele viu numa faixa de um de seus shows em São Paulo esta legenda: Gonzaguinha e Gonzagão a maior dupla sertaneja do Brasil.
· Aos 70 anos de idade, Gonzaga resolveu fazer uma cirurgia plástica no olho arrebentado pelo acidente sofrido em 1961.
· Um acidente urinário durante a operação revelou câncer na próstata, doença que Helena preferiu esconder do marido.
· O LP Danado de Bom, lançado em fevereiro de 84, lhe deu O PRIMEIRO DISCO DE OURO DA SUA CARREIRA. O disco ainda lhe daria um segundo disco de ouro.
· Foi uma orientação de Onildo Almeida à RCA que botou Gonzaga pra vender discos. Onildo disse ao pessoal da gravadora que a música de Gonzaga não precisava de sofisticação, que o disco tinha que ser bem produzido mas com poucos arranjos, e bem originais, para o preço ser bem popular. Aí Gonzaga passou a vender não mais 25 mil discos a cada lançamento, mas 200 mil.
· Ganhou um novo produtor: Oséas Lopes, conhecido também como Carlos André, cantor popular.
· A música Forrofiar, João Silva e Gonzaga fizeram em menos de 10 minutos. João Silva passou a ser parceiro cada vez mais presente na obra de Gonzagão.
· Sanfoninha Choradeira, com Elba Ramalho, se tornou um grande sucesso. O pot porrui com Fagner também foi outro sucesso enorme.
· Em 1984 ganhou o prêmio Shell e parou de segurar a sanfona, porque não agüentava mais o peso. Gonzaga achava que estava com gota, mas era o câncer que já lhe abalava a saúde.
· Agora se apresentava no palco acompanhado de dois sanfoneiros: Joquinha, seu sobrinho, e Mauro, um jovem de Exu que tocava no coral da Igreja.
· Em 1985, ganhou mais dois discos de ouro com o LP Sanfoneiro Macho, que tinha a participação de Dominguinhos, Gonzaguinha, Sivuca, Gal Costa e Elba Ramalho. Havia oito músicas de João Silva.
· O disco de 86, Forró de Cabo a Rabo, deu mais um disco de ouro a Luiz Gonzaga. A música-título era uma parceria dele e João Silva. Os dois compuseram a música num quarto de hotel. E João Silva com a cara cheia de uísque.
· No disco de 87, De Fia Pavi, a música que estourou mesmo foi "Nem se despediu de Mim", outro grande sucesso do velho Lua.
· No final de 87, Gonzaga já sentia fortes dores, provocadas pelo câncer de próstata. Já havia metástase nos ossos. Gonzaga chegou a dizer, um dia, que se mataria se soubesse que tinha câncer. Diziam-lhe que tinha osteoporose.
· No começo de 88, Gonzaga resolveu que viveria definitivamente ao lado de Edelzuíta Rabelo e deixaria Helena, sua esposa. Estava com 75 anos de idade. Essa decisão deixou-o até mais disposto, mais saudável.
· Nesse ano, gravou o disco Aí Tem Gonzagão. A voz de Gonzaga já não era a mesma. Estava diferente, cansada. Ainda em 88, a RCA lançou 50 Anos de Chão, uma caixa com cinco LPs, uma obra de despedida da gravadora com o seu cantor de 47 anos de trabalho.
· Gonzaga ainda chegou a gravar o LP Vou te Matar de Cheiro, na Copacabana. O último da sua vida.
· Em 1989, já bastante doente, Gonzaga ainda tinha na agenda vários shows marcados para o São João daquele ano.
· Mas, no dia 21 de junho, o velho Lua foi internado no Hospital Santa Joana, no Recife.
· No dia 16 de julho seria feito o divórcio de Gonzaga e Helena, que não aconteceu a pedido da família. Gonzaga pediria o divórcio alegando maus-tratos.
· Mas chegou o dia. Em 2 de agosto de 1989, Gonzaga faleceu no Hospital Santa Joana.
· Dizem as enfermeiras que ele sentia tantas dores, que, muitas vezes, soltava gemidos que mais pareciam aboios, aquelas toadas cantadas pelos vaqueiros em tom de lamento.
· No seu enterro, com a presença de muita gente, a música mais cantada foi "Nem se Despediu de Mim".
· Luiz Gonzaga foi batizado na matriz de Exu no dia 5 de janeiro de 1913 pelo padre José Fernandes de Medeiros, que sugeriu chamar o menino de Luiz por ter nascido no dia de Santa Luzia, e Gonzaga, porque o nome completo de São Luiz era Luiz Gonzaga; Nascimento, porque dezembro era o mês de nascimento do Menino Jesus.
· E por que Luiz não recebeu o sobrenome da família, Januário dos Santos, como se chamaram os oito irmãos e irmãs dele? NINGUÉM SABE ATÉ HOJE!
· A mãe de Gonzaga, Santana, teve nove filhos; a irmã dela, Nova, também teve nove; Baía teve sete e Vicença, oito. As irmãs criaram os filhos todos juntos. Uma molecada só.
· Certa vez, Januário que era tocador e consertava sanfonas, pediu a Gonzaga, ainda menino, para ajudá-lo na afinação e nos consertos do instrumento. Januário percebeu que Gonzaga não tinha lá muito jeito para a roça, e sim, para a sanfona. Daí então passou a chamar Gonzaga para se revezar com ele nos bailes.
· Com a grande cheia de 1924, o riacho do Brígida inundou os arredores e encheu a casa de Januário de água. A família foi obrigada a se mudar para o povoado do Araripe, na Fazenda Várzea Grande.
· O coronel Manoel Aires foi quem ajudou Gonzaga a comprar sua primeira sanfona, que custou 120 mil réis. Foi numa loja da cidade de Ouricuri, em 1926, ano em que Luiz Gonzaga passou a tocar sozinho (sem a companhia do pai) e se tornar um sanfoneiro profissional.
· Gonzaga participou durante três meses de um grupo de escoteiros em Exu e foi ali que ele aprendeu a ler e escrever. Mas como precisava ajudar os pais na roça, teve que voltar para casa.
· A iniciação sexual de Luiz Gonzaga foi com uma prostituta da região chamada Maria dos Lajes. Pegou logo uma blenorragia e foi tratado pela mãe, Santana, com remédios caseiros.
· O primeiro grande amor de Gonzaga, segundo ele mesmo declarou, foi uma moça chamada Nazarena, que pertencia à família Olindo, branca e importante na cidade de Exu.
· O pai da moça, seu Raimundo, quando soube do namoro, ficou furioso e disse que não queria sua filha namorando com um sanfoneirinho sem futuro e, ainda por cima, negro. Gonzaga sabendo disso, foi num sábado de feira tirar satisfações com o velho. Tomou uma lapada de cana, comprou uma faca pequena e encarou seu Raimundo. Este, percebendo que Gonzaga estava meio bêbado, desconversou e contou o atrevimento do negrinho para Santana. Chegando em casa, Luiz tomou uma surra da mãe.
· Por causa dessa surra, Gonzaga resolveu sair de casa. Disse aos pais que ia tocar no interior do Ceará e, com a ajuda do tangedor José de Elvira, foi s'imbora pro Crato. Chegando lá, separou-se do amigo, vendeu a sanfona e foi para Fortaleza, onde chegou em julho de 1930. Faria 18 anos só em dezembro.
· Gonzaga se alistou no Exército porque mentiu a idade. A lei só permitia depois dos 21 anos e como não exigiram a certidão, Gonzaga se alistou no 23o Batalhão de Caçadores e já no mês seguinte (agosto) estava participando da Revolução de 30 no interior da Paraíba.
· Quando completou 1 ano de Exército, Gonzaga foi mandado para servir no Sul do país e embarcou para o Rio de Janeiro em dezembro de 1931. Depois foi para Belo Horizonte em agosto de 1932 e integrou o 12o regimento da Infantaria. Foi lá que ele ficou sabendo que Nazarena, sua paixão de Exu, havia se casado.
· Em janeiro de 1933, Gonzaga fez um concurso para corneteiro e passou. Adquiriu algumas noções de harmonia, aprendeu a tocar corneta e foi elevado a tambor-corneteiro da 1a classe. Foi quando recebeu o apelido de Bico de Aço.
· Durante o serviço militar, Gonzaga aprendeu a tocar violão. Mas não tomou gosto pelo instrumento.
· Em 1936 era ouvinte da Rádio Tupi e admirava um baiano que começava a fazer sucesso: Dorival Caymmi. Conheceu naquele mesmo ano um colega soldado que tinha uma sanfona. Tomou gosto novamente pelo instrumento e pediu a Carlos Alemão, fabricante de sanfonas, que lhe fizesse uma. Demorou três meses. Tinha 48 baixos.
· Passou a tocar nas festas de Juiz de Fora e, depois, em Ouro Fino, para onde se transferiu em 1937. Nessa cidade, havia um advogado, o dr. Raul Apocalipse, que organizava espetáculos no clube Éden, e chamou Gonzaga para tocar lá. Foi a primeira vez que o exuense cantou num palco de verdade. Tocava músicas de Almirante, Antenógenes Silva e Augusto Calheiros.
· Completados dez anos de Exército, Gonzaga teve que sair por força da lei. Então, no dia 27 de março de 1939, Gonzaga embarcou num trem para o Rio de Janeiro e, na mala, uma passagem de volta para o Recife (de navio) e daí até Exu.
· MAS Gonzaga resolveu dar uma esticada ao bairro do Mangue, no Rio, onde havia muitos bares, verdadeiros "inferninhos" cariocas, e por ali passava muita gente.
· Passou a tocar no meio da rua, juntando gente, passando o prato, e chamou a atenção dos donos de bares. Conheceu o músico baiano Xavier Pinheiro e foi morar com ele, no Morro de São Carlos.
· Gonzaga se apresentou no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso, tocando valsa e tango e só recebia nota 3. No dia em que tocou "Vira e Mexe", recebeu nota 5. E foi muito aplaudido. Percebeu, então, que o negócio era tocar a música nordestina.
· A primeira participação de Gonzaga num disco aconteceu no dia 5 de março de 1941. Foi chamado, então, para fazer o acompanhamento na música "A Viagem do Genésio", na Victor (depois, RCA). O disco saiu em maio.
· Mas o primeiro disco com Luiz Gonzaga artista individual nasceu no dia 14 de março de 1941 quando foi chamado não mais para acompanhar outro artista, mas ele próprio sendo a figura principal. Seu primeiro disco, portanto, saiu em maio. Era um 78 rotações com a mazurca "Véspera de São João" e a valsa "Numa serenata". Em junho, Gonzaga foi lançado com o xamego "Vira e Mexe" e a valsa "Saudades de São João del=Rei".
· A primeira reportagem com Luiz Gonzaga saiu na revista Vitrine e tinha por título: "Luiz Gonzaga, o virtuoso do acordeon". Era assinada por Aldo Cabral, jornalista e compositor.
· Ainda em 1941, Gonzaga lançou mais dois 78 rotações. No primeiro, gravou "Nós queremos uma valsa" e o chorinho "Arrancando caroá", de sua autoria. No segundo disco, gravou "Farolito" (Augustin Lara) e "Segura a polca" (Xavier Pinheiro).
· Em meados de 1943, Luiz assinou o seu primeiro contrato para se apresentar fora do Rio de Janeiro. Era uma temporada no Cassino Ahú, em Curitiba. A imprensa local o chamou de "o maior acordeonista brasileiro". Lá, Luiz se apresentou durante 45 dias e se revelou também intérprete de suas canções. Luiz tornou-se cantor.
· Mas, ao chegar na Rádio Tamoio, da qual era contratado, Gonzaga viu o seguinte aviso: "Luiz Gonzaga está terminantemente proibido de cantar, por ter sido contratado como sanfoneiro". O aviso era assinado por Fernando Lobo, que anos depois se arrependeu da besteira que fez com Luiz.
· Aí Luiz foi tentar a sorte na Victor (depois RCA Victor)_. E lá, a obstinação era a mesma. Todo mundo só admitia Gonzaga como sanfoneiro, nunca como cantor. Gonzaga passou a acompanhar Bob Nélson em várias temporadas e tornaram-se amigos.
· Como Gonzaga não conseguia cantar, passou a dar suas músicas para outros artistas cantarem. Sua primeira intérprete foi Carmem Costa, que gravou "Xamego" em fevereiro de 1944.· Alguns anos depois, Carmem Costa negou que tivesse sido um dos "casos" de Luiz Gonzaga.
· Ainda em 1944, Carmém gravou "A mulher do Lino", de Luiz Gonzaga e Miguel Lima (este, o primeiro grande parceiro de Gonzaga) e, no ano seguinte, gravou "Bilu, Bilu" e "Sarapaté".
· Aí Luiz conheceu Manezinho Araújo, pernambucano como ele, embolador já de nome. No dia 12 de fevereiro de 1945, Manezinho gravou "O xamego de Guiomar", com música de Gonzaga e letra de Miguel Lima. Depois veio "Dezessete e Setecentos".
· Gonzaga só conseguiu cantar num disco quando mentiu dizendo que ia gravar na Odeon como cantor. Aí Vitório Latari, seu diretor, se rendeu e perguntou: "O que você tem aí pra gravar?"
· Gonzaga tinha um bocado de músicas. Naquele dia, ele contou: participara de 25 discos como sanfoneiro. E pela primeira vez, realizaria seu sonho de ser cantor.
· No dia 11 de abril de 1945 Gonzaga entrou no estúdio da Victor para gravar sua primeira música como cantor: "Dança Mariquinha", uma mazurca de sua autoria, com letra de Miguel Lima. No lado B gravou a instrumental "Impertinente".
· O lançamento não teve nenhuma repercussão. Mas em junho, Gonzaga voltou ao estúdio da Victor para gravar seu segundo disco como cantor. Gravou o xamego "Penerô Xerém" (parceria com Miguel Lima) e "Sanfona Dourada", um instrumental.
· Em setembro, vai Luiz de novo para o estúdio e grava a mazurca "Cortando o pano", com letra de Miguel Lima e Jeová Portella. Em novembro, a música foi lançada e estourou nas paradas. Aí Luiz se fez cantor de verdade.
· Em setembro, Luiz já assinara contrato com a Rádio Nacional, e realizou assim seu grande sonho, que era cantar na emissora dos maiores talentos.
· Nessa época, Gonzaga tinha como companheira Odaléia Guedes (que conhecera em 44), mais conhecida como Léa, que tornou-se mãe de LUIZ GONZAGA DO NASCIMENTO JÚNIOR. O Gonzaguinha nasceu no dia 22 de setembro de 1945.
· Gonzaga disse certa vez à sua última mulher, Edelzuíta Rabelo, que só hospedou Odaléia na sua casa porque ela estava sozinha e grávida, sem ninguém que lhe socorresse. Por isso, sabe-se hoje, que Gonzaguinha não era filho biológico do Rei do Baião.
· Gonzaga também nunca negou que era estéril.
· Uns diziam, na época, que Gonzaguinha era filho de Armando, violonista da Nacional, e outros asseguravam que o menino era filho de Nelsinho do Trombone.
· A relação de Gonzaga e Odaléia foi muito agitada, com muitas brigas. Gonzaga chegou a levar uma surra dos irmãos dela. E foi morar com o irmão José Januário na casa de uma cafetina.
· Mas Gonzaga queria cantar as coisas do Nordeste e procurou um parceiro que lhe desse as letras falando de sua origem. Até que encontrou HUMBERTO TEIXEIRA, um cearense de Iguatu nascido em 1915 e que vivia no Rio desde 1930. Humberto começou estudando Medicina, mas se decidiu mesmo por Direito.
· Os dois se conheceram em agosto de 1945 e, em dez minutos, fizeram, juntos, "No meu pé de serra" e se emocionaram quando concluíram a música, porque afinal os dois eram nordestinos e sentiam a mesma saudade da terra natal.
· Mas a música só seria gravada em novembro do ano seguinte (1946).
· A segunda música que fizeram juntos colocou Gonzaga nas paradas e fez surgir um novo gênero na música popular brasileira. "Baião" (Eu vou mostrar pra vocês como se dança o baião) era o nome da música e tornou-se também o ritmo que faria sucesso dali em diante.
· "Baião" foi lançada de forma planejada, para levar o gênero ao Nordeste partindo do Sul, sempre chegando às capitais, para que a música nordestina fosse urbanizada. O lançamento foi em outubro de 1946.
· Mas, para surpresa de todos, Gonzaga deu a música para que o grupo os Quatro Ases e um Coringa gravasse e a fizesse conhecida pelo país todo.
· Com esse grupo, mais estilizado, Gonzaga achou que a música chegaria mais longe, sem preconceitos. E chegou mesmo. É tanto, que Luiz só a gravaria de verdade três anos depois.
· A mãe de Gonzaga, dona Santana, esperou 16 anos para ver o filho de volta a Exu e, como ele não voltava, resolveu visitá-lo em meados de 1946. Santana viajou com a filha Geni num navio a vapor, durante 17 dias, até chegar ao Rio.
· Gonzaga tirou férias da Rádio Nacional e quis visitar Exu. Foi quando viajou de avião pela primeira vez. A mãe e a irmã voltaram de vapor.
· No Araripe, Gonzaga ficou 12 dias. Foram doze dias de festas, de bailes, de alegria na família do rei.
· Passando nessa viagem por Recife, Gonzaga gravou um comercial para as Casas Pernambucanas. Ganhou muitos tecidos e mandou para a família em Exu. Com o cachê, Gonzaga comprou seu primeiro carro zero quilômetro, uma Nash, que despachou de navio para o Rio de Janeiro.
· Foi aí que Gonzaga conheceu ZÉ DANTAS, filho de Carnaíba, estudante de Medicina e conhecedor das coisas sertanejas. Gonzaga estava hospedado no Grande Hotel e Zé Dantas foi lá para conhecê-lo, levando uma música pela qual Gonzaga logo de apaixonou: "Vem Morena".
· A amizade de Luiz e Zé Dantas só se consolidaria em 1950, quando o médico/compositor foi morar no Rio de Janeiro para estagiar no Hospital dos Servidores.
· Mas, voltando à viagem de Gonzaga: quando ele retornou ao Rio em 1947, depois das férias em Exu, gravou "A moda da mula preta", de Raul Torres.
· Em março, Lua gravou um 78 rotações que tinha, no lado A, "Vou pra Roça" e, no lado B, "Asa branca".
· Pronto: Asa branca! Mas era uma música que ele e Humberto Teixeira fizeram sem muita expectativa, sem alarde, porque achavam que seria mais uma.
· E não foi. Asa branca seria o marco principal na carreira e na vida de Luiz Gonzaga. Foi cantando essa música que Gonzaga participou do seu primeiro filme, Esse Mundo é um Pandeiro, de Watson Macedo, o rei das chanchadas.
· Helena das Neves Cavalcanti: esse era o nome de uma contadora e tiete de Gonzaga que ele conheceu no vigésimo-segundo andar da Rádio Nacional em julho de 1947. Helena era pernambucana de Recife e havia perdido o pai, farmacêutico em Gravatá, aos 5 anos de idade.
· Helena fora morar no Rio em 1944. Depois que conheceu Gonzaga, para quem escrevera a fim de conhecê-lo, tornou-se sua secretária. Afinal, também era contadora e poderia administrar a fortuna de Gonzaga.
· Na temporada que Gonzaga fez na Rádio Clube, em Recife, no final de 1947 (era 15 de dezembro, quando desembarcou no Aeroporto dos Guararapes), trouxe Helena com ele e mandou chamar sua mãe, Santana, para conhecê-la. Aí a velha se engraçou muito de Helena e aprovou o casamento.
· As irmãs de Gonzaga dizem hoje que Gonzaga não parecia muito empolgado com o casamento. A verdade é que em fevereiro de 48, já noivo de Helena, Gonzaga mantinha um caso com Elza Laranjeira, cantora na Record em São Paulo.
· No dia 16 de junho de 1948, Gonzaga se casou com Helena no Rio de Janeiro, na Igreja de Nossa Senhora de Aparecida, no bairro de Cachamby. Os padrinhos de Gonzaga foram Miguel Lima e esposa; e os de Helena foram Mário Reis (que não era o cantor) e esposa.
· Ao se casarem, Gonzaga ia completar 36 anos (no dia 13/12) e Helena tinha 22.
· O casal e a mãe de Helena, dona Marieta, foram morar na rua Vereador Jansen Muller, 425, no bairro de Cachamby. (Naquela época se escrevia com y)
· Em 1948, a RCA Victor não tinha onde prensar seus discos porque havia rompido com a firma inglesa responsável pela prensagem.
· Só em 1949 é que Gonzaga voltou a fazer sucesso com "Légua Tirana", uma toada triste.
· Em junho daquele ano, Gonzaga inaugurou a prensa "zero quilômetro" da RCA com a música "Mangaratiba" de um lado do disco, e "Lorota Boa" do outro.
· No mesmo dia, Gonzaga deixou gravada "Juazeiro", cuja melodia o velho Januário já tocava quando Gonzaga era menino, e Humberto botou uma nova letra.
· Uma curiosidade: "Juazeiro" chegou a ser gravada pela cantora americana Peggy Lee, numa versão dos compositores Harold Steves e Irving Taylor.
· O cantor Francisco Carlos chegou a fazer sucesso com duas músicas de Gonzaga/Humberto Teixeira: "Me deixa em paz" e "Meu brotinho".
· Quando Gonzaga resolveu levar toda a família para o Rio de Janeiro, bateu de frente com um impasse: Santana não iria de barco porque queria levar toda a mudança; e Januário não viajaria de avião porque, segundo o velho, não era urubu para voar no céu. Aí Gonzaga alugou um caminhão pra pegar todo mundo. Era o dia 1o de novembro de 1949 quando a família de Gonzaga se mudou para o Sul.
· Em janeiro de 1950, o médico Zé Dantas deixou Recife para também morar no Rio de Janeiro.
· A música "Vem Morena" tem a parceria de Luiz Gonzaga, mas na verdade é toda de Zé Dantas. É que Gonzaga botou seu nome pra ver se amenizava qualquer polêmica que surgisse entre Zé Dantas e seu pai, que poderia suspender sua mesada e proibir seus estudos por ter se tornado compositor. O pai não queria isso.
· Zé Dantas foi recebido no Rio por Gonzaga, Humberto e Péricles.
· Um dia, Humberto Teixeira, que era um bom orador, recebeu incentivo para se candidatar a deputado federal. E acabou entrando para a política, deixando uma brecha providencial para Zé Dantas como compositor.
· Zé Dantas era obstetra e trabalhava no Hospital dos Servidores, do Rio de Janeiro. Gonzaga sempre achou Zé Dantas mais sertanejo, mais telúrico do que Humberto Teixeira, embora este compusesse em qualquer tema.
· A primeira banda que Gonzaga formou para acompanhá-lo tinha dois componentes: Zequinha, no triângulo, à sua esquerda, e João André Gomes, vulgo Catamilho, na zabumba, à sua direita.
· Depois de dois anos de casados, e sem ter menino em casa, Gonzaga fez um exame médico e descobriu que era estéril. Aí o casal adotou uma menina de nome Rosa Maria, mais conhecida como Rosinha, que Helena sempre tentava apresentar como filha legítima do casal.
· Uma vez correu o boato que Gonzaga havia matado Helena porque havia encontrado a mulher atrás de um piano agarrada com Assis Chateubriand. O boato depois é que teria só cortado a orelha de Helena. Quando Helena mostrou a orelha, disseram que era de plástico. Quem contou isso foi a própria Helena.
· O irmão mais novo de Luiz, José Januário, sempre teve o apoio de Gonzaga no Rio de Janeiro. Foi o Rei do Baião que sugeriu a Januário que mudasse o nome dele para Zé Gonzaga, pra todo mundo saber que ele era seu irmão e, assim, dar-lhe oportunidade de fazer sucesso.
· Em maio de 1951, Luiz Gonzaga sofreu um acidente de carro e quase morre. Zequinha estava dirigindo e, em vez de seguir para a Via Dutra, entrou na avenida Brasil. Como Zequinha estava com sono, Gonzaga pediu o volante com raiva e, dentro de quinze minutos, bateu com o carro e caiu de uma altura de 15 metros. Eram 5 horas da manhã.
· Saldo do acidente: Gonzaga quebrou seis costelas e a clavícula; Zequinha quebrou o queixo e Catamilho arrebentou as costas.
· Ainda em 1951, Gonzaga sofreu outro acidente de carro, mas nada sério com ele e os músicos. Dona Santana foi quem mais sofreu: perdeu um dedo, porque a mão dela estava pra fora. O acidente foi provocado por uma roda que saltou do carro.
· Zé Dantas, Humberto Teixeira e Gonzaga faziam o programa No Mundo do Baião, na Rádio Nacional. O compositor e médico Zé Dantas era também produtor do Cancioneiro Rayol. O sertanejo sabia contar estórias, imitar as vozes dos animais e falar feito matuto.
· Zé Dantas e Humberto Teixeira apenas se aturavam. Até que um dia os dois brigaram feio e se intrigaram de verdade. Gonzaga também se aborreceu com Humberto e os dois brigaram.
· Dizem que Humberto Teixeira achava que, na parceria, ele deveria ganhar mais do que Gonzaga porque sua participação era mais importante. Helena se metia achando que não. A família de Gonzaga, por outro lado, reclamava dizendo que Asa Branca, Juazeiro e No Meu Pé de Serra eram músicas feitas pelo velho Januário, e era ele que deveria receber os direitos autorais. Nessa época, os sucesso fazia todos brigarem entre si.
· Gonzaga então declarou abertamente que sua nova paixão musical era Zé Dantas. E mais ninguém. Essa decisão de Gonzaga foi ruim, porque Humberto era o homem dos direitos autorais, homem de conhecimentos, que impediu Gonzaga de receber corretamente seus direitos.
· Mesmo assim, Gonzaga preferiu ficar com Zé Dantas.
· Dona Iolanda, viúva de Zé Dantas revela hoje que muitos sucessos da parceria Gonzaga/Zé Dantas eram na verdade só de Zé Dantas, que as gravava num gravador enorme e mostrava para Luiz quando este passava pelo Rio.
· E Zé Dantas dava a parceria sem reclamar. Pelo menos para Gonzaga, porque para os amigos o médico chegou a lamentar essa situação.
· Helena, muito sabida, e percebendo a fisionomia contrariada de Zé Dantas, chegava a dizer a este: "Ô doutor, o senhor não acha que fica mais bonito quando se bota no disco Luiz Gonzaga e Zé Dantas?" Afinal, era ela que controlava o dinheiro que entrava dos direitos autorais.
· Tanto que, em 1952, Gonzaga só gravou duas músicas com a participação de Zé Dantas: Imbalança e São João na Roça. Naquele ano, Gonzaga arrumou um novo parceiro: Hervê Cordovil, que era maestro da Record. Foi Carmélia Alves que apresentou um ao outro.
· No final de 1951, os Laboratórios Moura Brasil contrataram Luiz Gonzaga para fazer uma excursão pelo país todo, de Porto Alegre a Belém. E tudo isso de caminhonete. A turnê durou um ano.
· Na passagem pelo Recife, Gonzaga estreou na Rádio Tamandaré e bateu o recorde de bilheteria. Teve que fazer mais dois shows, o que valeu uma renda fabulosa de 80 mil cruzeiros.
· Além do cachê, Gonzaga recebeu do Moura Brasil um Jipe, quando o prometido era um Cadillac.
· Zé Dantas se reconciliou com Gonzaga e passou a freqüentar a casa de Januário e Santana que
Gonzaga lhes deu de presente em Santa Cruz da Serra, no Rio. Foi ali que Zé Dantas, ao lado da família de Gonzaga, num ambiente sulista que mais parecia roça nordestina, que ele voltou a compor.
· Quem fez a introdução da música "São João na Roça" foi o velho Januário. Gonzaga e Zé Dantas pelejaram e não acharam um jeito de dar uma boa introdução à música. Januário fez isso em poucos minutos na sua safoninha de oito baixos.
· Uma vez, Gonzaga juntou o velho Januário e mais cinco irmãos e fez um grupo chamado Os Sete Gonzaga para se apresentar na Rádio Tamoio. O sucesso foi tanto que a temporada se prolongou por dois meses.
· Em 1953, Catamilho, que bebia muito, foi posto pra fora do grupo e até surgiu um boato de que Gonzaga havia matado o músico por causa de Helena. Os boatos foram tantos que Gonzaga se viu obrigado a contratar Catamilho de novo só para provar ao povo que o homem estava vivo!
· Mas Catamilho continuou bebendo muito e acabou saindo de vez. No seu lugar entrou o anão Osvaldo Nunes Pereira, que Gonzaga conheceu trabalhando num posto de gasolina, em Jequié, na Bahia.
· Zequinha, solidário com Catamilho, também pediu pra sair do grupo em plena excursão pelo Ceará. Gonzaga se viu de repente sem acompanhantes. Mandou buscar um engraxate engraçado de nome Juraí Miranda, que morava no Piauí. Antes de um show em Santo Antonio de Jesus, Gonzaga parou num riacho para ensaiar com os dois novos componentes que nem de música entendiam.
· Aquele era o dia 23 de outubro de 1953. Luiz botou nome artístico nos dois recém-formados músicos. Osvaldo, o anão, iria ser chamado de Xaxado. E Juraci seria chamado de Cacau.
· O anão Xaxado depois ficou sendo chamado de Salário Mínimo.
· Gonzaga, nessa época, viajava demais. Não parava em casa. Helena é que ia se encontrar com ele nos locais onde fazia show.
· Foi, por isso, que Hervê Cordovil fez a música "Vida de Viajante".
· Ainda em 1953, Gonzaga e Zé Dantas fizeram o Xote das Meninas, A letra I, ABC do Sertão, Algodão e Vozes da Seca. A música A Letra I era uma referência à noiva de Zé Dantas, Iolanda, com quem ele viria se casar no dia 26 de junho de 1954.
· Durante uma segunda excursão da Moura Brasil, Gonzaga cantou em Garanhuns/PE e conheceu o sanfoneiro Dominguinhos, de 14 anos, fazendo parte de um trio chamado Os Três Pingüins. O da sanfona era Nenén, que depois seria conhecido por Dominguinhos.
· Em 1955, Gonzaga tomou conhecimento de uma tal Patrulha de Choque de Luiz Gonzaga, um trio de imitadores de Luiz Gonzaga formado por Marinês, que cantava e tocava triângulo; Abdias, seu marido, na sanfona, e Chiquinho, o cunhado, na zabumba.
· Em 1955, numa festa em Propriá, o prefeito Pedro Chaves promoveu o encontro de Marinês com Gonzaga.
· Em março de 56, a convite de Gonzaga, Marinês e Abdias desembarcaram no Rio de Janeiro e ficaram hospedados na casa do rei do baião, que coroou Marinês a Rainha do Xaxado, numa apresentação na Rádio Mayrink Veiga.
· Por fim, Gonzaga formou um grupo para acompanhá-lo, com Marinês, Abdias, Zito Borborema e Miudinho. Era chamado de Luiz Gonzaga e seus Cabras da Peste.
· Por conta do ciúme que Helena tinha de Marinês, o grupo logo se desfez no final daquele mesmo ano.
· Aí a cantora formou um grupo chamado Marinês e sua Gente, com Abdias e Cacau, e conseguiu fazer sucesso nos palcos brasileiros. Ela ainda hoje diz que foi a primeira mulher a cantar forró. Gravou seu primeiro disco pela Sinter, em 1957.
· Nesse mesmo ano, Helena idealizou a criação de um novo grupo inspirado no trabalho de Gonzaga. Aí juntou Zito Borborema, Miudinho e Dominguinhos, que aquela altura já estava morando no Rio, tentando gravar um disco. O grupo passou a se chamar Trio Nordestino e era empresariado por Helena, a mulher de Gonzaga.
· No final dos anos 50, Gonzaga entrou numa fase de declínio, com a chegada da bossa-nova e do rock and roll tupiniquim. A classe média e as elites deixaram Luiz Gonzaga de lado e quiseram sepultar o baião. Foi então que Gonzaga passou a cantar mais no interior, onde sempre foi e seria eterno ídolo. Contratou o anão Oswaldo, de novo, para tocar triângulo, e mais Azulão na zabumba, e fez muitos shows pelo interior do Brasil.
· Foi numa dessas andanças, em Mato Grosso, que ele reencontrou-se com Nazarena, seu primeiro amor, já casada e mãe de família.
· Helena, a mulher de Gonzaga, foi ficando cada vez mais ciumenta e disposta a tomar conta da carreira do marido. Diziam que ela era autoritária e vivia criticando os amigos mais próximos de Gonzaga.
· Ela também queria ser popular. Em 1958, Helena entrou na política e, pela UDN, elegeu-se vereadora de Miguel Pereira, no estado do Rio.
· A partir de 1958, Gonzaga gravou pouca coisa de Zé Dantas, que, por sua vez, passou a registrar suas criações apenas em seu nome, não dando mais a parceria a Gonzaga.
· Santana, a mãe de Gonzaga, sofria do Mal de Chagas e faleceu no dia 11 de junho de 1960 no Rio de Janeiro, onde foi enterrada. Depois, seus restos mortais foram transferidos para o cemitério de Exu.
· Ainda em novembro de 1960, o velho Januário voltou a casar. Conheceu Maria Raimunda de Jesus, de 32 anos e, no dia 5 daquele mês, selou sua segunda união na Igreja de Exu, mas só depois do consentimento de Gonzaga.
· Esse casamento de Januário e Maria Raimunda durou 18 anos.
· Gonzaga já não vendia tantos discos como antes, e, para continuar sustentando a família, vendeu seu palacete e comprou um apartamento pequeno, na rua Pereira Alves, 255, em Cocotá, na Ilha do Governador.
· Em 1961, Gonzaguinha, com 16 anos de idade, passou a morar com o pai em Cocotá.
· O anão Osvaldo, que tocava triângulo no grupo de Gonzaga, contou que o patrão trabalhou na campanha de Jânio Quadros de graça! Só os músicos recebiam o cachê.
· Em 1961, na cidade de Sumé, na Paraíba, Gonzaga conheceu o compositor José Marcolino, com muitas músicas prontas. Aí Gonzaga mandou buscá-lo depois para, no Rio de Janeiro, prepararem o repertório do LP daquele ano.
· Gonzaga sofreria um outro acidente de carro em 1961. Andando num carro velho, a porta se abriu, Gonzaga bateu com a cabeça no chão, sofreu uma fratura no crânio e teve o olho direito gravemente ferido. A sorte dele foi que havia uma farmácia por perto, onde recebeu os primeiros socorros, ou, segundo dizem, teria morrido.
· Nesse acidente, Gonzaguinha e Osvaldo sofreram leves arranhões. Mas Gonzaga ficou um mês internado. Isso fez com que o disco ficasse para ser gravado em janeiro de 1962.
· Era o LP Véio Macho, que tinha seis parcerias dele com José Marcolino, duas músicas de Zé Dantas, uma de Onildo Almeida, outra de Rosil Cavalcanti e uma parceria de João do Vale com Helena, que na verdade só entrou porque João era de uma sociedade autoral diferente e teve que colocar o nome de Helena, em vez do nome de Gonzaga.
· Zé Dantas não chegou a ouvir esse disco. Morreu no dia 11 de março de 1962, após longa doença na coluna vertebral que o mantivera hospitalizado durante quase um ano. Morreu aos 41 anos de idade. Gonzaga não compareceu ao enterro, em Pernambuco, porque ainda estava se recuperando do acidente de carro. Diziam até que a família de Zé Dantas ficou magoada com a ausência de Gonzaga.
· Ainda nesse ano em que perdia Zé Dantas, Gonzaga conheceu um parceiro importante na sua carreira: João Silva.
· Gonzaga acabou sendo contratado pela Mayrink Veiga para uma temporada entre 62 e 63, com sucesso.
· Em 1963, Gonzaga lançou "A Morte do Vaqueiro", uma música de protesto e de homenagem a seu primo legítimo Raimundo Jacó, que fora assassinado em 1954. Essa música foi composta na rua Vidal de Negreiros, número 11, no Recife. Gonzaga deu o mote a Nelson Barbalho e a música saiu ligeiro, nos acordes de Luiz e nos versos de Barbalho.
· Gonzaga entrou para a maçonaria, no Rio, e chegou ao terceiro grau. Ficou sem tempo para continuar.
· Em 1964, Gonzaga comprou um terreno em Exu. Naquele ano gravou dois LPs. Lançou Sanfona do Povo, um lamento pela sanfona roubada no Rio, e cuja história todo mundo ficou sabendo. Luiz Guimarães fez a letra e tornou-se o novo parceiro de Gonzaga.
· O segundo LP trouxe uma das músicas mais conhecidas do seu repertório: A Triste Partida, uma mistura de lamento e de protesto escrita por Antonio Gonçalves da Silva, o popular Patativa do Assaré. A música tem 152 versos.
· Gonzaga ainda pediu a parceria da música a Patativa, que, indignado, mandou o sanfoneiro "plantar feijão". Assim mesmo, Gonzaga gravou e fez sucesso. Depois, não gravou mais nada do compositor cearense.
· Em 1966 saiu um livro com a biografia de Luiz Gonzaga escrito por Sinval Sá. O livro não foi às livrarias. Era Gonzaga mesmo quem vendia.
· Em 1967, Gonzaga andava meio esquecido. A Jovem Guarda estava na onda. Aí, junto com José Clementino, fez o Xote dos Cabeludos, um protesto gravado no disco Ói Eu Aqui de Novo, que trazia a participação de João Silva, compositor que o acompanharia pelos próximos 20 anos.
· É bom registrar que, em 1965, Geraldo Vandré, esquerdista convicto, gravara Asa Branca, de um Luiz Gonzaga chamado de direitista. Aí Gonzaga retribuiu gravando, em 1968, um compacto simples com a música Caminhando, grande sucesso de Vandré.
· Gonzaguinha se formou em Economia para atender a um desejo do pai. Mas nem sequer foi buscar o anel da formatura. Queria mesmo era ser músico, sobretudo letrista. Em 1968, Gonzagão gravou quatro músicas do filho.
· Nesse disco entrou também o pernambucano Rildo Hora, que teria grande importância na carreira de Gonzaga.
· Ainda em 1968, Luiz fez as pazes com Humberto Teixeira, que o trouxe de volta à UBC (União Brasileira de Compositores). Saiu logo um disco intitulado Meus Sucessos com Humberto Teixeira.
· Um dia, Carlos Imperial criou um boato dizendo que os Beatles iriam gravar Asa Branca. Aí a imprensa começou a procurar Luiz Gonzaga, fazer entrevistas, gravar programas, pagando cachê, um rebuliço geral. E então Luiz voltou a ser notícia, ainda mais depois de Gil e Caetano terem dito que suas influências teriam sido as músicas de Luiz Gonzaga.
· A partir de 1969, Dominguinhos já fora do Trio Nordestino (agora com Lindu) passou a acompanhar Gonzaga em seus shows. Era a segunda sanfona e também seu chofer. Numa dessas andanças, Dominguinhos conheceu Anastácia, e aí começou uma relação de amor e música.
· Com padre João Câncio, Gonzaga criou a Missa do Vaqueiro, em homenagem a Raimundo Jacó, o vaqueiro assassinado em 1954, e que era seu primo legítimo. A missa tinha a participação dos irmãos Bandeira e dos vaqueiros da região.
· Um disco de Caetano Veloso, gravado no exílio, era cantado todo em inglês, menos uma música: Asa Branca. Ao ouvir a música pela primeira vez, numa loja de disco, Gonzaga chorou.
· Gonzaga gravou um disco produzido por Rildo Hora chamado O Canto Jovem de Luiz Gonzaga, interpretando só músicas de Caetano, Gil, Antonio Carlos e Jocafi, Edu Lobo, Vandré, Dori Caymmi e Gonzaguinha. A moçada da MPB estava redescobrindo o velho Lua.
· Em agosto de 1971, Luiz Gonzaga deu uma entrevista ao Pasquim, que o chamou de "a figura mais importante da música popular brasileira".
· Em março de 1972, Gonzaga se apresentou no Teatro Teresa Raquel num show chamado Luiz Gonzaga Volta Pra Curtir, produzido por Capinam. Os estudantes foram sua platéia.
· Mas Gonzaga não estava cantando mais o que queria, do que realmente gostava. E queria voltar às suas raízes.
· Em 1972, pediu à RCA um adiantamento para comprar uma Veraneio, para usar em suas andanças pelo país. A RCA negou o dinheiro e Gonzaga se afobou: rompeu um contrato de 32 anos e foi bater na Odeon, onde Fernando Lobo o esperava com o dinheiro do carro Veraneio.
· Na Odeon, Luiz ficou dois anos. Lá, gravou cinco discos, mas apenas 26 músicas inéditas. O único grande sucesso pela odeon foi Samarica Parteira, do LP Sangue Nordestino (1974), uma obra escrita por Zé Dantas que Gonzaga cantava em seus shows mas nunca havia gravado.
· Em 1973, Gonzaga recebeu o título de Cidadão Paulista.
· Ainda naquele ano, recebeu uma missão das mãos do governador de Pernambuco, Eraldo Gueiros: como mediador, Gonzaga tentaria pacificar a cidade de Exu, onde imperava a violência entre as famílias Sampaio e Alencar.
· Para isso, Gonzaga inventou de se candidatar a deputado federal pelo MDB. Foi salvo por um conselho do amigo Padre Câncio, que o fez ver da besteira que poderia ser aquela decisão. Padre Câncio disse a ele que Gonzaga era o cantor, o sanfoneiro consagrado; que, se eleito, seria só mais um deputado. E nem votaria nele! Aí Gonzaga despertou e desistiu de ser candidato.
· Gonzaga era, bem declarado, adepto dos militares. Cantava para eles, era querido por eles, e vivia perto deles, sempre. Já o filho Gonzaguinha era da esquerda, andava com os universitários que repudiavam a ditadura, e, por isso, os dois a partir de certo momento ficaram de relações cortadas.
· Gonzaga, o pai, chegou a defender a Censura e deixou seus seguidores meio atordoados. Ele chegou a dizer que "essa coisa de tortura é jogada dos comunistas".
· Durante o Governo Médici, Gonzaga recebeu a notificação que haviam sido censuradas três músicas dele: Asa Branca, Vozes da Seca e Paulo Afonso. Helena defendeu Gonzaga na Censura e conseguiu reverter a situação.
· Em 1972, Gonzaga criou a casa Forró Asa Branca, na Ilha do Governador, onde fez muitos shows até 1974, quando Helena e as cunhadas brigaram e puseram tudo a perder.
· Em 1975 não foi lançado nenhum disco inédito.
· Helena, como empresária, lançou naquele ano Os Novos Gonzaga (com os sobrinhos de Lua) e As Januárias (as sobrinhas).
· Saiu Dominguinhos e entrou Joca, seu sobrinho, para acompanhar Gonzaga. Ficou 1 ano ao lado do tio e depois, com o nome de Joquinha Gonzaga, seguiu sua própria carreira.
· Numa viagem que fez do Recife para Brasília, em 1975, Gonzaga conheceu Edelzuíta Rabelo, que seria sua última companheira.
· Edelzuíta já conhecera Gonzaga em Caruaru, onde, nessa ocasião, estava noiva do radialista Ludogério, que acabou morrendo num desastre de avião três anos antes do segundo encontro de Gonzaga e Edelzuíta.
· De volta à RCA, Gonzaga lançou em 1976 o LP Capim Novo. A música que dizia "Certo mesmo é o ditado do povo: pra cavalo velho o remédio é capim novo" retratava o momento que ele vivia ao lado da namorada Edelzuíta, então com apenas 35 anos, e ele já com 63.
· Capim Novo acabou entrando na trilha sonora da novela Saramandaia e Luiz entrou também nas paradas de sucesso. Nesse mesmo ano, a TV Globo fez um especial com ele. Foi exibido em duas partes, nos dias 13 e 20 de agosto de 1976.
· Em 1977, Gonzaga fez o projeto Seis e Meia ao lado de Carmélia Alves, no Teatro João Caetano. Foi lançado um LP com os dois em agosto daquele ano.
· Em abril de 77 já havia sido lançado o LP Chá Cutuba, na mesma veia de Capim Novo e Ovo de Codorna. Nesse disco, Gonzaga gravou uma música de gratidão a Benito di Paula, que havia citado seu nome em Charlie Brown e feito a bela Sanfona Branca em homenagem a Luiz.
· Nesse LP, uma curiosidade: duas músicas assinadas por Humberto Teixeira, sozinho, sem a parceria de Gonzaga.
· Gonzaga entrou em 1977 na versão brasileira da famosa Enciclopédia Universal Britânica.
· No dia 11 de junho de 1978 morreu o velho Januário, pai de Gonzaga, exatamente 18 anos depois da morte da mulher, Santana. No ano seguinte, Gonzaga gravou o disco Eu e Meu Pai em homenagem ao velho.
· Ainda nesse disco foi gravada a última música que Humberto Teixeira compôs para Gonzaga: Orélia.
· Também nesse ano morria Humberto Teixeira, seu grande parceiro.
· Nessa mesma época, Gonzaga e Gonzaguinha fizeram as pazes e gravaram juntos Vida de Viajante.
· Uma vez, Gonzaga teve um encontro com o general João Figueiredo e este lhe perguntou: "Cadê seu filho? Por que ele não gosta de mim? Diga a ele que me deixe em paz".
· Gonzaga falou certa vez em lançar Helena, a esposa, candidata a prefeita de Exu. Helena não quis.
· No início de 1980 participou da temporada Sabor Brasil, promovida pela Souza Cruz, ao lado de Clara Nunes, Altamiro Carrilho, Waldir Azevedo, João Nogueira e João Bosco.
· Nesse ano foi lançado o disco Homem da Terra, sem grandes novidades, a não ser os dispensáveis violinos, sem contar que a faixa título era um comercial para o Bamerindus.
· Mas em 1981 veio um LP bonito, intitulado A Festa, com a participação de Gonzaguinha, Emilinha Borba, Dominguinhos e Milton Nascimento, este último em dueto com Gonzaga na música Luar do Sertão.
· Foi nesse ano que Gonzaga passou a ser chamado de Gonzagão. Ele viu numa faixa de um de seus shows em São Paulo esta legenda: Gonzaguinha e Gonzagão a maior dupla sertaneja do Brasil.
· Aos 70 anos de idade, Gonzaga resolveu fazer uma cirurgia plástica no olho arrebentado pelo acidente sofrido em 1961.
· Um acidente urinário durante a operação revelou câncer na próstata, doença que Helena preferiu esconder do marido.
· O LP Danado de Bom, lançado em fevereiro de 84, lhe deu O PRIMEIRO DISCO DE OURO DA SUA CARREIRA. O disco ainda lhe daria um segundo disco de ouro.
· Foi uma orientação de Onildo Almeida à RCA que botou Gonzaga pra vender discos. Onildo disse ao pessoal da gravadora que a música de Gonzaga não precisava de sofisticação, que o disco tinha que ser bem produzido mas com poucos arranjos, e bem originais, para o preço ser bem popular. Aí Gonzaga passou a vender não mais 25 mil discos a cada lançamento, mas 200 mil.
· Ganhou um novo produtor: Oséas Lopes, conhecido também como Carlos André, cantor popular.
· A música Forrofiar, João Silva e Gonzaga fizeram em menos de 10 minutos. João Silva passou a ser parceiro cada vez mais presente na obra de Gonzagão.
· Sanfoninha Choradeira, com Elba Ramalho, se tornou um grande sucesso. O pot porrui com Fagner também foi outro sucesso enorme.
· Em 1984 ganhou o prêmio Shell e parou de segurar a sanfona, porque não agüentava mais o peso. Gonzaga achava que estava com gota, mas era o câncer que já lhe abalava a saúde.
· Agora se apresentava no palco acompanhado de dois sanfoneiros: Joquinha, seu sobrinho, e Mauro, um jovem de Exu que tocava no coral da Igreja.
· Em 1985, ganhou mais dois discos de ouro com o LP Sanfoneiro Macho, que tinha a participação de Dominguinhos, Gonzaguinha, Sivuca, Gal Costa e Elba Ramalho. Havia oito músicas de João Silva.
· O disco de 86, Forró de Cabo a Rabo, deu mais um disco de ouro a Luiz Gonzaga. A música-título era uma parceria dele e João Silva. Os dois compuseram a música num quarto de hotel. E João Silva com a cara cheia de uísque.
· No disco de 87, De Fia Pavi, a música que estourou mesmo foi "Nem se despediu de Mim", outro grande sucesso do velho Lua.
· No final de 87, Gonzaga já sentia fortes dores, provocadas pelo câncer de próstata. Já havia metástase nos ossos. Gonzaga chegou a dizer, um dia, que se mataria se soubesse que tinha câncer. Diziam-lhe que tinha osteoporose.
· No começo de 88, Gonzaga resolveu que viveria definitivamente ao lado de Edelzuíta Rabelo e deixaria Helena, sua esposa. Estava com 75 anos de idade. Essa decisão deixou-o até mais disposto, mais saudável.
· Nesse ano, gravou o disco Aí Tem Gonzagão. A voz de Gonzaga já não era a mesma. Estava diferente, cansada. Ainda em 88, a RCA lançou 50 Anos de Chão, uma caixa com cinco LPs, uma obra de despedida da gravadora com o seu cantor de 47 anos de trabalho.
· Gonzaga ainda chegou a gravar o LP Vou te Matar de Cheiro, na Copacabana. O último da sua vida.
· Em 1989, já bastante doente, Gonzaga ainda tinha na agenda vários shows marcados para o São João daquele ano.
· Mas, no dia 21 de junho, o velho Lua foi internado no Hospital Santa Joana, no Recife.
· No dia 16 de julho seria feito o divórcio de Gonzaga e Helena, que não aconteceu a pedido da família. Gonzaga pediria o divórcio alegando maus-tratos.
· Mas chegou o dia. Em 2 de agosto de 1989, Gonzaga faleceu no Hospital Santa Joana.
· Dizem as enfermeiras que ele sentia tantas dores, que, muitas vezes, soltava gemidos que mais pareciam aboios, aquelas toadas cantadas pelos vaqueiros em tom de lamento.
· No seu enterro, com a presença de muita gente, a música mais cantada foi "Nem se Despediu de Mim".
Assinar:
Postagens (Atom)